sexta-feira, 6 de março de 2009

Odisséia

Bem, eu já pensava (faz tempo) em escrever um post falando sobre minha odisséia pra arrumar trabalho. Primeiro, eu quis esperar o contrato se firmar, porque não gosto de falar das coisas antes de elas acontecerem. Depois aconteceu, e vocês já sabem né? Bolas de feno rolando entre as tulipas do blog.
Mas aí por conta do comentário no post anterior, resolvi apressar o post, porque pode ajudar mais pessoas também né?

A primeira coisa é deixar claro que as coisas que eu vou falar são bem específicas: pra uma pessoa que veio acompanhando um parceiro pesquisador de universidade. Mais na frente, vocês (os que agüentarem ler tudo - com trema) vão saber a diferença que faz o fato de ser pesquisador, mas tem que ler o texto todo (rá!). Pra quem vai casar com holandês(a) ou tem cidadania européia, muito pouco do que vou falar vale, mas quem sabe né?

Dito isso, outra relativização: as políticas de imigração mudam com muita freqüência. Um casal de amigos veio 1 ano antes da gente e o processo pra eles foi bem diferente do que foi pra gente. Sem contar que, de um ano para o outro, o valor da taxa aumentou em 100 euros (!!!).

Então, introduções feitas, meu primeiro conselho específico para Luana é: se você quer vir junto com seu namorado que vai fazer doutorado em Leiden é: CASE! Gostou?
Mas sério, pra conseguir o visto de acompanhante, é quase essencial ser casada, senão as chances de ter seu visto negado são estratosféricas. Quem vem fazer doutorado aqui não é reconhecido como estudante, mas como tendo um posto de trabalho de pesquisador. Então a Universidade pede o visto dele e do cônjuge. Ele recebe uma permissão de residência e de trabalho (que no caso é somente para o posto de doutorado na Universidade) e você recebe uma permissão de residência apenas. Para receber uma permissão de trabalho, você precisa primeiro arrumar quem queira te contratar, e aqui começa a tal odisséia.

A princípio eu cheguei aqui pensando em fazer um mestrado. Eu pensava em pedir financiamento do Nuffic (um órgão de educação daqui, que fornece bolsas), mas vi que não me enquadro para conseguir uma bolsa. Daí acabei desistindo de fazer o mestrado, porque fica muito caro pra pagar. Pra europeus, a taxa é de cerca de 1500 euros, pra estrangeiros passa pra cerca de 11000 euros, tornando impossível pra mim. Daí eu resolvi procurar trabalho e juntar dinheiro pra fazer cursos de curta duração.

Pra quem não sabe, eu sou arquiteta. Eu me candidatei para vagas como cadista, pois entendi que era melhor começar por baixo para entender o funcionamento dos escritórios aqui, e tentar me desenvolver posteriormente. No entanto, o pouco conhecimento de holandês foi uma barreira. Apesar de terem achado meu currículo bom e do bom inglês. Vale ressaltar que todo europeu a quem eu digo que não consegui emprego na minha área por não falar holandês acha super estranho. Então, se você não fala holandês, faça o favor de ter nascido europeu.

Daí acabou que eu consegui uma oferta de emprego numa empresa de engenharia que faz muitos trabalhos internacionais e não se incomodou de me contratar sem que eu falasse holandês fluente. Eu já sabia que meu chefe teria que dar entrada com o pedido da minha permissão de trabalho junto à imigração. Quando eu ia assinar o contrato, começou uma loooonga (mais longa que esse post) fase da burocracia holandesa para conseguir um emprego (para estrangeiros).

A questão é que, antes de uma empresa poder contratar um estrangeiro, ela deve oferecer essa vaga por pelo menos 5 semanas em um site do governo e somente se não conseguir um candidato europeu adequado, a empresa pode contratar um não-europeu. A maioria das agências de emprego (aliás, nenhuma com quem tive contato) não sabe dessa regra européia, mas eu liguei para a embaixada e o processo é esse mesmo.

Depois de passadas as 5 semanas, a empresa pode entrar com o pedido de permissão de trabalho, que pode levar de 6 a 8 semanas. É importante notar que somente se pode requisitar permissão de trabalho se a pessoa já tem permissão de residência. Se você vier na mesma condição que eu, o processo pode levar até 6 meses, se bem que comigo levou uns 3 meses, foi até rápido. O pedido de permissão é feito pelo chefe nesse site http://www.cwi.nl/. É interessante também que você se cadastre nesse site como "job seeker", o que pode facilitar um pouco a sua vida nesse processo.

Passadas as 5 semanas, meu chefe ainda queria me contratar (porque né, contratar uma pessoa com nível universitário pagando salário de cadista...). Isso é outra coisa: depois que alguém quer te contratar, você candidamente fala: agora espera 5 semanas pra dar entrada no processo. Fala sério né?

Mas, enfim, fomos dar entrada no processo. Daí eu precisava traduzir e legalizar meu diploma. Importantíssimo pra quem vem: faça isso no Brasil! É muito mais barato e ágil! Eu não pude fazer porque meu diploma ficou pronto às vésperas de viajar, e me lasquei! Paguei 300 euros na tradução aqui. Depois de traduzir, tem que mandar legalizar, e você paga mais grana e pode durar ainda mais 2 meses. Isso pra depois, seu chefe mandar o diploma para o Ministério do Trabalho e demorar mais 2 meses pra sair a permissão.

Tão acompanhando o cálculo? 5 semanas + 2 meses + 2 meses

Mas aí vem a cereja do bolo, a maravilha que é ser casada com um pesquisador da universidade (especialmente se for o meu maridinho).

Caso você seja casada com um pesquisador universitário, você simplesmente não precisa de tradução e legalização do diploma! Em vez disso, seu chefe manda a certidão de casamento e a permissão sai em tipo 2 semanas! E você nunca pensou que ser casada com um doutorando fosse algum tipo de pistolão né?

Mas claro, eu só soube disso depois de ter desenbolsado as 300 pilas.

Enfim, é isso. No fim, comecei a trabalhar, e está tudo ótimo.

Sendo que agora eu tenho que fazer mais duas observações:

1. achar emprego para mim foi muito fácil, em 2 semanas que coloquei meu currículo na internet eu consegui. Mas a área técnica tem uma disponibilidade muito maior que outras áreas.

2. a Holanda está em recessão. Quando eu procurei emprego, a taxa de desemprego aqui era quase zero. Eu achei minha vaga tipo, no momento exato. Agora o desemprego tá maiorzinho (sei lá, 0,5%), então os procedimentos podem ser diferentes.


Agora parece que eu escrevi as coisas pra desestimular. É tudo bem difícil e complicado pra quem é estrangeiro e quer um trabalho digno (pra faxinar não falta vaga) e a princípio, bem desestimulante. Mas, gente? Quem foi que disse que na Holanda a vida é mais fácil que no Brasil (pelo menos pra quem é de fora)? A gente em casa tem que batalhar muito, aqui também. É isso.

domingo, 1 de março de 2009

Suuuuuuu-cesso

"Morro do Dendê-a, ruim dji invadji-a..."
Quem conhece essa porcaria música aqui? Pois é, os holandeses também.
Isso porque esse proibidão de uns dez anos atrás se beneficiou do sucesso de Tropa de Elite e tá bombando! Toca na rádio, passa clipe na TV, vendem-se ringtones pra celular, uma coisa!
Entrou até no cd de seleção dos melhores hits da rádio que [infelizmente] se ouve no meu trabalho.
Diante do meu choque ao ouvir o pará-pará-pará pela primeira vez na rádio, meu chefe perguntou do que se tratava. Eu expliquei que era uma música proibida no Brasil por fazer apologia ao uso de armas e ele me responde com: "Na Holanda, nada é proibido..."

Sei...