terça-feira, 23 de setembro de 2008

Mais música

Já que mostrei uma musiquinha meiga no post passado, decidi permanecer no tema ("meio" que na preguiça de pensar em uma outra coisa pra escrever).
Dessa vez vou apresentar a vocês Marco Borsato, que parece ser um dos cantores pop mais famosos e populares aqui da Holanda.
O cara é holandês mas morou na Itália um bom tempo. Ele inclusive começou a fazer sucesso aqui cantando em italiano (não digo que o povo aqui prefere música em outra língua). Depois ele começou a lançar discos em holandês mesmo, mas a maioria das músicas de sucesso na língua-mãe são versões de músicas italianas (porque ser cantada em holandês e ter melodias holandesas já seria demais né?).
Enfim, sem mais delongas, vos apresento o maior sucesso do cabra: Dromen zijn bedrog - Sonhos são ilusões.

Aproveitem!
Ou melhor... agüentem!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Peitinhos holandeses

Uma fotinho (e um título) sensacionalista para alavancar a audiência do blog, porque tô aprendendo com o Globo.com.

A foto foi tirada no festival Uit Markt, que aconteceu em Amsterdã nesse fim de semana, que na verdade foi bem movimentado no país, com festivais em Leiden, Roterdã e Utrecht também.

As mocinhas em questão estavam se manifestando sobre alguma coisa relativa a modelos. No chão estava escrito algo como “modelar com modelos”, o que pode querer dizer que elas querem que os trabalhos sejam feitos por modelos profissionais, porque tipo, pode ser que aqui aconteça parecido com o Brasil, que atores da Globo e subcelebridades em geral vivem querendo bancar os modelos; ou elas querem virar modelos e por isso tavam lá se mostrando; ou de repente elas estão questionando os modelos atuais de beleza... quantos níveis de discussão peitinhos de fora podem atingir né?

Enfim, o festival foi bem massinha. Era espalhado pela cidade toda e a princípio a gente foi pro lado errado, pois tínhamos visto que tinha muita coisa no centro, mas no fim era tudo de teatro lá e tinha que pagar. Lisos que somos, voltamos pra perto da estação de trem, onde estavam concentradas apresentações musicais. Pegamos no finzinho uma banda que no programa estava como portuguesa-holandesa, e a mulher que estava cantando era brasileira.

Aí fomos ver uma banda que estava como de jazz brasileiro, chamada “Gente boa” e no fim a banda era de holandeses cantando músicas brasileiras, de Djavan e Elis a Daniela Mercury a Babado Novo. O repertório ficou salvo (pelo menos pra mim) porque tocaram um afro-samba de Vinícius e Baden Powell e porque é sempre bom vem gringo cantando música da terrinha quando você tá exilado (arrasei no drama). Ainda desenterraram Fernanda Porto. A banda era boazinha, apesar do sotaque gringo da moça cantora, que ainda assim desenrolou bastante bem. Pena que durou só meia hora. E era assim mesmo, pessoal. Cada banda tocava meia hora e era super pontual. Nada de bis. Nada de fazer charme fingindo que vai embora pra depois voltar.

Aí vocês devem pensar: mas que fuleragem né, estar em um festival na Holanda e ir ouvir música brasileira. Eu vos respondo duas coisas: primeiro, eu sou bairrista e segundo, vai ouvir música holandesa pra tu ver o que é bom. Nem eles ouvem, eu vou ouvir...

Não é questão de ter a mente fechada, a língua deles não foi feita pra ser cantada. É a coisa mais rara do mundo você ver um holandês espontaneamente escutando música na língua dele. É tudo em inglês. Vez por outra você ouve uma música tradicional, mas em geral em ocasiões especiais.

Tipo, no festival de Leiden teve a apresentação de um senhor bem engraçado, chamado Vader Abraham - “Pai Abrãao” – que é bem tradicional e conhecido. É engraçado de ver e é daquele tipo de música que todo mundo aqui gosta e canta junto porque ouve desde que se entende por gente. Vale ressaltar que esse cara canta músicas dos Smurfs, que os holandeses AMAM de paixão e ainda hoje passa na TV daqui.

Mas tirando o interesse quase folclórico no velhinho, no festival de Leiden a melhor banda que a gente viu tava cantando em inglês mesmo.

Um ponto bastante positivo de ambos os festivais que fomos foi em relação ao uso de descartáveis. Quando você comprava qualquer bebida, pagava uma caução pelo copo descartável e ficava usando o mesmo até o fim. A caução era devolvida quando você fosse entregar o copo de volta, diminuindo o uso de descartáveis e o volume de lixo. Medida super simples, basta usar uns copinhos mais resistentes...

Enfim, voltando à questão musical, deixo aí um video de Vader Abraham cantando uma musiquinha dos Smurfs pra vocês verem que meigo.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Porque eu passei a achar o velox o máximo

Eu falei em prováveis 2 semanas sem internet né? Pois eis que, 1 mês e 2 semanas depois, a internet aqui finalmente começou a funcionar.

Eu não sei se já falei que as coisas se resolvem muito devagar na Holanda. Mas juro, nunca pensei que o acesso à internet, algo tão necessário na vida de uma pessoa quanto cerveja, fosse prejudicado por essa lerdeza absurda.

O esquema é o seguinte: você vai em uma loja que ofereça o plano que você quer contratar. Lá, você faz o contrato e encomenda o kit de instalação de internet. Nos deram o prazo de 3 semanas para recebermos o kit pelo correio. Algumas outras são mais honestas e dão o prazo de 4 semanas.

Passaram 3 semanas e nada. Quase 4 semanas, recebemos uma carta dizendo: mandamos seu kit. Massa né, que delicadeza nos avisarem... Daí o kit chegou exatamente 4 semanas depois, mas a gente não estava em casa, um vizinho pegou pra gente e só entregou 2 dias depois (esse maldito é espanhol, se fosse holandês, talvez ele tivesse demorado mais 1 semana para entregar).

Aí a coisa rola assim: você recebe o kit e tenta instalar. Caso não consiga, você tem que ligar e gastar todos os seus créditos de celular tentando pedir uma pessoa pra montar. Mas a gente é descolado e nunca achou que fosse precisar de alguém pra instalar uma porqueira de modem.

Quando fomos instalar, não funcionava nem a pau. Fizemos tudo 367 vezes e nada de sinal. Daí ligamos pra lá e pedimos um técnico, que veio 2 semanas depois. Quando ele veio, descobriu o que nós já desconfiávamos: o problema era nos cabos (casa velha tem desses problemas). O pior é que a gente mora numa casa que foi dividida em três apartamentos, então as ligações não são independentes. O cara tentou todos os cabos disponíveis e eles não funcionavam.

Aí ele ligou para a central e eles disseram que nossa vizinha de cima (que é tipo uma síndica e os novos moradores têm que ser pré-aprovados por ela) tinha cancelado a net dela, então eles deveriam transferir os cabos dela pra gente. A gente disse que não podia resolver isso, porque sabe lá né? Eles disseram que não era decisão nossa, era a única alternativa e ela tinha cancelado a net dela mesmo, tava tipo, nem trepa nem sai de cima dos cabos.

Aí ele fez isso e deu-se a luz, mesmo: a luz do sinal ADSL começou a piscar pela primeira vez. Tão grande a minha emoção...


Final feliz?


Bem, alguns dias depois, a vizinha veio perguntar se a gente tinha feito algum serviço com a KPN, porque tipos, ela cancelou a internet dela, mas não o telefone...

E agora a coitada é quem tem que tentar resolver isso, é pau. Só sei que no dia em que eu vir alguém da KPN chegando aqui, vou montar guarda no shaft da fiação, porque ninguém tasca meus cabinhos!!!

domingo, 13 de julho de 2008

De mudança

De mudança para a casa nova e para prováveis 2 semanas sem internet.

Tot ziens! Até a vista!

domingo, 6 de julho de 2008

Menu de Cervejas- LEFFE BRUNE

Quando e onde: Bélgica, desde 1240 (é isso mesmo, pessoal. desde o século XIII!!! eu adoro uma antigüidade...)
Tipo: Abadia - cervejas de alta fermentação, produzidas em antigos mosteiros. A Leffe começou a ser produzida pelos monges da antiga abadia belga de Leffe e mantém a mesma receita desde então. A Leffe Brune, como o nome diz, é uma cerveja escura, marrom.
Teor alcóolico: 6,5%
Sabor: Dji-lí-cia!!! É forte, encorpada. O fabricante (que hoje em dia é a Inbev) diz que ela leva maltes escuros e possui sabores frutados. Eu só posso dizer: pessoal, A MELHOR cerveja que eu provei até agora.
Preço: Cara. Mas super vale a pena.

Existem também outros tipos de Leffe: a Blond (6,6%), a Triple (8,4%) e a Radieuse (8,2%). E eu quero to-das!!!

De cerveja não se pode dizer que os monges não entendiam. Abençoados sejam os monges cervejeiros de Leffe!

terça-feira, 1 de julho de 2008

E num poste...

... a caminho de mais uma Turkse Pizza...

sexta-feira, 27 de junho de 2008

IKEA

Drops de posts anteriores:

Sobre o post do mercado imobiliário: recentemente marido estava procurando um quarto pra um amigo que vem passar 3 meses aqui e nos deparamos com uma nova exigência dos senhorios: o quarto em questão era direcionado para um homem homossexual.

Sobre o post da greve dos ônibus: a greve acabou depois de 19 dias, ou seja, em 20 de junho. Numa sexta-feira, os motoristas voltaram a trabalhar. Não rolava de esperar até segunda-feira? Bem, melhor pra gente, porque finalmente pudemos ir na IKEA comprar os móveis da casa nova.

IKEA de Delft: o sofá anunciado na fachada é bem mais
da metade do que a gente pagou por nossos móveis todos.


Pra quem não conhece, a IKEA é uma rede de lojas de origem sueca, sediada aqui na Holanda e presente em toda a Europa, na Ásia, EUA e Canadá. Ela é tipo a Tok&Stok, sendo que bem melhor.
Melhor porque ela oferece mobiliário de qualidade a preços mais acessíveis que a similar brasileira (que faz móveis carérrimos sem nem essa qualidade toda). Ela oferece desde móveis beeem baratinhos até uns com design mais elaborado, mas ainda assim relativamente baratos. É claro que foi na categoria dos bem baratinhos que a gente se situou.
Tipo, é a loja que permite que lisos como nós consigam montar a casa toda de vez. Sendo que nas casas miúdas daqui não precisa de muito né?
O princípio da loja é que os produtos são criados pra poderem ser montados pelos próprios consumidores. Mas não é só isso que nós consumidores fazemos. O processo lá é assim: você vê os móveis no mostruário, anota as referências daqueles que escolheu, desce até o estoque e pega as caixas você mesmo. E pra gente que pegou a casa toda? Haja carrinho... nós precisamos de três. Depois você passa as mercadorias (no nosso caso, quase literalmente a nossa casa) no caixa e leva você mesmo as caixas pra o setor de transportes. Só faltou a gente ter que carregar a van. Mas se não tivemos que carregar, certamente tivemos que descarregar. A van chega só com o motorista, e o nosso foi até bonzinho que ajudou a levar pra dentro de casa.
Assim fica mais fácil baratear o preço, não é mesmo pessoal?
Mas o sistema até que não é difícil, e a vantagem de achar tudo mais barato no mesmo lugar compensa.
E liso que é liso topa tudo pra economizar.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A Holanda na EuroCopa 2008

Os holandeses são super empolgados com futebol. Quando começou a EuroCopa, diversas casas e lojas ficaram todas decoradas com bandeiras do país, e muitas muitas bandeirinhas laranja. Faziam a festa em dias de jogo, e merecidamente. Na primeira fase, a Holanda deu muito orgulho pra sua torcida.

Alguns, mas céticos, diziam: toda vez é assim, se empolgam, fazem a festa, e a Holanda não passa da primeira fase. Na verdade, a Holanda só ganhou uma EuroCopa, em 88 e de lá pra cá, a “Laranja Mecânica” ficou só na promessa, apesar de eles acharem o time deles fantástico demais. No livro que li sobre “como sobreviver aos holandeses”, o autor fala de um grande jogador holandês, que depois virou técnico e foi o responsável pela formação tradicional da seleção neerlandesa. Segundo o autor, esse jogador - que eu não lembro o nome - foi tão grande, que em sua época só se comparava a Pelé, Maradona e Beckenbauer. Aí depois de escrever isso ele acordou...

Daí que a gente foi ver o jogo de Holanda e França num bar. A primeira coisa que estranhamos foi que o bar retira as mesas e cadeiras e as pessoas assistem ao jogo em pé, que nem em arquibancada, sendo que não tem piso escalonado que nem num estádio, então a probabilidade de um gigantão ficar na sua frente barrando a visão é imensa. No meu caso, foi um gigante alemão e bêbado, que não conseguia ficar quieto. Uma beleza.

E o bar lotando cada vez mais... e aquelas coisas chatas de gente com formiga nas calças, indo pra lá e pra cá o tempo todo, um inferno. Onde está o prazer de ficar todo mundo sentadinho, assistindo ao jogo, comendo e tomando cerveja? Oxe...

Mas eles bem que são animados. Aplaudem até cobrança de lateral. Chegou perto da trave já saem gritando gol. E gritam bastante quando é gol de verdade.

Apesar da vitória bonita que foi nesse jogo, a gente saiu do bar meio mal-humorado, porque a situação é realmente bem desconfortável e a gente não ficou eufórico como eles pra relevar isso né? Aí a gente saiu logo que acabou o jogo, porque ia começar a euforia nas ruas e a gente queria evitar.

Fizemos certíssimo, porque quando fomos pegar nossas bicicletas, uns jovens tavam vandalizando as bicicletas que estavam estacionadas junto das nossas. O povo tava jogando uns fogos no meio da rua, em cima dos outros. Um quase pegou na minha perna. Parece que se aproveitam da euforia e bebedeira dos outros pra brincar de marginal. Tão bonito né? Mamãe-quero-ser-gangster.

Depois dessa, decidimos: deixa os jogos deles com eles. A gente fica vendo em casa mesmo.

E acaba que os céticos tavam certos né? A Holanda passou da primeira fase como favorita, perdeu pra Rússia (e gente, eu não entendo bulhufas de futebol, mas eu nunca que soube que a Rússia jogava bem). Agora a euforia passou e tudo volta ao normal. As peças laranja entraram em promoção e fim de história, pelo menos até o próximo campeonato, quando os herdeiros daquele que foi tão grandioso quanto Pelé voltam a ser promessa.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Easy Going


A tartaruguinha chapada.
Haarlem, mar|2008.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Menu de Brebotos – BELGIUM WAFFLE

Porque nem só de hartig (salgado) vivem os brebotos. E esse é praquelas pessoas formiguinhas loucas por doce, comme moi.

Pois o Waffle Belga é uma djilícia, amigos. E eu nem tive que ir até a Bélgica pra provar, embora eu bem que pretenda fazer isso. Esse eu provei na cidade gatinha Haarlem.

Pra falar a verdade, eu nem tive muita escolha em relação a provar. O cheiro maravilhoso que incensou toda a rua me obrigou, juro. E a loja era uma gracinha, e o doce é lindo.

Daí que o doce tem essa base, o waffle em si, e você escolhe a cobertura que quiser (e que o cozinheiro oferecer, claro). Eu escolhi calda de cereja. Marido, por exemplo, achou essa cobertura muito doce, mas você pode comer também com creme, com uma camada fininha de açúcar refinado, com calda de outras frutas ou puro mesmo, né pessoal?

Pois, se forem na Bélgica, a dica é encher a cara de cerveja e no dia seguinte se empaturrar de waffle pra recuperar a glicose.

Ficadica.


*Parabéns, amigo-coisa!

terça-feira, 10 de junho de 2008

Meu mundo do transporte coletivo perfeito caiu...

Pois é amigos... os motoristas de ônibus estão em greve por melhores salários. Parece que a coisa pra eles não é tão boa assim...
Nas duas semanas anteriores ao início da greve, eles fizeram paralisações de advertência. Pararam 3 dias na semana, das 9 às 16h. Pelo visto a advertência não funcionou e eles pararam totalmente desde 1 de junho.
Não sei se a greve é nacional, ou seja, se envolve todas as empresas de ônibus, ou se é só na Connexxion, que é a maior empresa da Holanda, de ônibus e bondes (que também pararam) e é a única que serve Leiden.
Em cidades menores, as pessoas não devem ter muitos problemas pra se deslocar pelo menos no centro, pois dá pra ir de bicicleta facilmente. Eu mesma comecei a me aventurar mais de báique justamente por conta da greve (e disso falo mais tarde).
Mas não sei como fica nas cidades maiores e, principalmente, pra quem tem que ir a cidades pequenas onde o trem não passa.
Pelo visto o transtorno não deve ter incomodado os bolsos dos donos da empresa ainda, já que a coisa vem se arrastando por 10 dias e ninguém faz idéia se está perto de acabar...

Update: a greve envolve 3 das 7 companhias de transporte que funcionam na Holanda.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Lanasolanda responde:

Porque o Brasil não investe mais em bicicletas como alternativa de transporte que faz bem pra saúde das pessoas, do meio-ambiente e pro tráfego nas grandes cidades?

Porque o costume de andar de bicicleta pra cima e pra baixo foi criado pro povo que tem cabelo liso.

terça-feira, 3 de junho de 2008

A legalização da maconha

Eu já me irritava muito com a mídia brasileira quando ainda estava em casa. Agora, de fora, estou me irritando mais ainda. É uma mídia monotemática, primária e baseada mais nas pré-concepções dos jornalistas do que nos fatos e no dever de bem-informar.

Falo isso pra introduzir o tema lá em cima. Por quê? Oras...

Vou dar um exemplo: muita gente veio falar comigo a respeito da história de ser permitido sexo nos parques aqui. Eu não tenho TV em casa, mal leio jornal. Sei das notícias daqui mais pelos meios brasileiros mesmo. Mas daí um conhecido nosso, que já mora aqui há algum tempo e anda mais bem-informado, me disse que a questão foi a seguinte: um casal foi preso trepando num parque em Amsterdã. O cara questionou a prisão na justiça e ganhou a causa, criando então jurisprudência pra o caso de alguma outra pessoa na mesma situação também querer questionar o caso na justiça. Priu. Não há lei liberando. Há a possibilidade de ganho de causa, caso você seja preso. E as pessoas ainda podem ser presas se forem pegas com a boca (ou outras partes) na botija.

Mas as manchetes brasileiras foram: Holanda libera sexo ao ar livre, entre outras abobrinhas. E parece que a grande maioria dos holandeses nunca nem ouviu falar no tema.

Passando um pouco mais pro tema em questão. Uma outra notícia que eu vi era: Holanda proíbe cigarro em espaços públicos, mas a maconha continua liberada. Erro atrás de erro.

A Holanda realmente vai proibir o cigarro em ambientes fechados, como bares e restaurantes, da mesma forma que o Recife fez. Nos espaços abertos, o cigarro é permitido, a maconha não. Oxe, e num é legaláisede?

Esse é um dos maiores mal-entendidos em relação à legalização da maconha: que pode fumar nos espaços públicos, em todo canto.

A questão é a seguinte: para comprar maconha e outras drogas leves, você vai aos coffeeshops ou smartshops. Em alguns desses ambientes você compra e pode consumir lá mesmo (os coffeeshops funcionam como bares também), em outros você compra e vai embora. Se não for fumar no coffeeshop, por lei, você só pode fumar em casa. Existe tolerância pra fumar na rua? Em alguns lugares, sim. Na rua em Amsterdã, que falei no post da prostituição, a galera fuma na rua mearmo. Mas nenhum pai de família vai levar suas crianças pra dar uma voltinha naquela rua.

Nas cidades menores, como Leiden, a tolerância é menor. Porque os coffeeshops ficam nas ruas de comércio e tal. Rola de alguém fumar na rua? Rola. Mas se outrem se incomodar, pode chamar a polícia. É uma coisa meio de acordo social. Fumem maconha, mas matenham isso longe das minhas crianças, que não rola muito problema.

Por isso nem vão ficar achando que podem aloprar em qualquer lugar que chegarem aqui. Não é porque a maconha é liberada que todo holandês é maconheiro.

A venda também tem suas restrições. Os coffeeshops só abrem às 4 da tarde, o preço é alto e provavelmente deve ter um limite da quantidade que você pode comprar. Em casa, as pessoas podem também plantar até 6 pés de maconha. Mais do que isso é considerado tráfico. Oxente, e a liberdade total rola não?

É, meus caros, a velha história do liberar/controlar. É o método deles. A decisão de legalizar as drogas leves aqui foi uma tentativa de diminuir o consumo de drogas pesadas, em especial a heroína. Deu certo. O consumo de maconha aumentou bastante, o de heroína caiu. Com isso diminuíram problemas de saúde pública e de tráfico.

Não sei se daria certo no Brasil, os sistemas são totalmente diferentes e não dá pra pensar em simplesmente copiar uma solução entre países tão diversos.

Uma vez entrei numa coffeeshop, acompanhando uns amigos que iam comprar maconha. E quem me conhece sabe que eu não falei “uns amigos” pra despistar, porque eu sou careata. É ótimo ver o cara entregando o menu com as opções. Você pode comprar em gramas ou, para os maconheiros safados que não sabem “apertar”, vende o baseado pronto também. O pessoal levou 5 gramas, pagou 4 e ainda ganhou a seda. Uma loja comum, com promoções comuns.

Outra coisa engraçada são os viciados tremendo e olhando nervosamente o relógio esperando dar 16h pra loja abrir.

Em alguns lugares, existem muitos problemas com jovens drogados. Em Volendam (fotos no Picasa) existe uma associação chamada “Mães Corajosas” que tentam tirar seus filhos do consumo e impedir que os mais novos comecem. Porque mesmo num país onde é legalizado, a maioria dos pais não quer saber de seus filhos consumindo drogas né? Ainda que eles mesmos tenham consumido no passado, ou talvez por isso mesmo...

Outro problema recente são os abusos dos turistas. Muita gente vai em Amsterdã pra ficar doidão e acaba passando bem mal. A culpa é dos vacilões que não sabem fazer? Nãããooo, é do fato de as drogas serem liberadas. Muita gente passa mal com chá de cogumelo, ainda que na caixa do chá, venham as indicações de como fazer corretamente, informações para iniciantes e de como baixar a lombra caso você estile. Setores conservadores querem voltar a proibir. O prefeito de Amsterdã (cidade que vai perder muita grana caso seja proibido) defende que os turistas sejam mais bem-informados e que só possam consumir as drogas depois de 3 dias de estada na cidade. No que isso vai dar, ainda não sei. Aviso se rolar alguma novidade!


P.S.1: Não é só maconha que é liberado, obviamente. Por isso falei tanto em “drogas leves”. Entre a lista, estão chás de cogumelos e Ayahuasca, por exemplo. Lista de uma loja aqui. Não se espantem com a vitamina C, ela é uma das “corta-lombra”.


P.S.2: Com esse texto dou início a uma nova série, de fotos de coffeeshops nas cidades em que fui. Algumas tem nomes deveras impagáveis!

quarta-feira, 28 de maio de 2008

O mercado imobiliário

No outro post eu falei que finalmente conseguimos alugar um bom apartamento (ninguém me felicitou, mas tudo bem, eu nem sou drama queen...). O que eu não falei foi da dificuldade que é conseguir um apartamento aqui em Leiden, especialmente no centro.

A história é a seguinte: a demanda por quartos ou apartamentos tipo studio aqui é imensa, por conta do excesso de estudantes que vêm (tanto do estrangeiro quanto daqui mesmo) estudar na Universidade de Leiden.

Aí que em canto nenhum do mundo proprietário de imóvel e corretor imobiliário é besta, mas aqui... Vale lembrar que a “história” que eu vou contar se aplica só pra apartamentos de estudantes e em Leiden. O mercado para casas maiores, casais com filhos e tal é outra coisa e nem as imobiliárias são as mesmas. Se já é difícil pra um estudante, imagina pra uma família que quer uma casa grande num país com falta de espaço...

A coisa começa assim: a média de preço para aluguel no centro de Leiden é €650,00. Isso para lugares de 20 a 30 m2 e para uma pessoa só. Em geral esses preços incluem as taxas de luz, água e gás, mas também tem muitos que não incluem e a pessoa tem que se ligar nisso.

As imobiliárias têm um estoque de apartamentos disponíveis pra aluguel, geralmente listados na internet. Daí se você gostar de um, achar que cabe, achar que pode pagar o preço abusivo, você vai ter que pagar uma taxa pra se cadastrar na imobiliária e poder visitar e saber os detalhes do lugar. Você não faz visita nem pega o contato do proprietário sem pagar por isso (existem uma ou outra que não cobram, mas são a excessão que confirma a regra). E o cadastro só vale por um ano.

Só que não é só isso. A maioria dos proprietários coloca uma série de restrições pra você alugar. Tipo, eles falam se pode homem ou mulher, se é pra trabalhador ou estudante, qual a idade máxima ou mínima, se pode ter animal, se pode fumar, se pode 1 ou 2 pessoas. Quase tudo é pra 1 pessoa, se for casado tem que pagar mais. É tarefa de Hércules conseguir um apê pra 2 pessoas em Leiden por um preço de até 650 euros.

E A GENTE CONSEGUIU!

Além de tudo isso, o óbvio: eles avaliam o quanto você recebe mensalmente pra saber se você pode pagar o aluguel. Isso é a única coisa que, na minha opinião, eles devem fazer mesmo. Especialmente porque aqui existem leis que protegem o inquilino e, depois que ele passar 3 meses vivendo no lugar, se ele deixar de pagar, o senhorio não pode simplesmente despejar, fica super complicado.

E a galera é “inzigente” meeeesmo. Até porque eles sabem que se você estilar, sempre vai ter alguém que queira. Sempre que você liga atrás de um, um chinês já foi atrás. Sempre vai ter um chinês no caminho. E os orientais são acostumados com altos níveis de exigências né?

Depois que você conseguir atender a toooooodos os requisitos, vem a parte do pagamento. Você tem que fazer um depósito de 2 a 3 vezes o valor do aluguel (que é uma garantia de que o apê vai ser devolvido inteiro. Se for, o dinheiro volta), pagar a taxa de administração da corretora (o aluguel + 19%), o primeiro aluguel e, algumas vezes, a taxa da prefeitura, de 200 euros. Fazendo o cálculo com 650, uma pessoa precisaria desembolsar em torno de 3000 euros de cara pra alugar um apartamento. E ainda tem que mobiliar. Claro, porque apês mobiliados são ainda mais caros, não importando o fato de que a mobília já vem toda lascada e que você pode comprar tudo na IKEA bem baratinho que num instante se paga.

Depois disso, dá pra alguém mandar uma felicitação por termos conseguido um bom apê???? Rum!!!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Leiden

Recentemente me liguei que nunca tinha “apresentado” propriamente Leiden, cidade onde moro agora.

Leiden é uma cidade com cerca de 200 mil habitantes, localizada na província da Holanda do Sul (os Países Baixos possuem 12 províncias, duas delas a Holanda do Norte e a do Sul que, por sua importância, acabaram por criar o “apelido” de Holanda para o país).

A referência mais antiga a Leiden foi feita no século IX. Em 1574, durante a guerra dos holandeses contra o domínio espanhol, a cidadela foi cercada pelos espanhóis durante 5 meses, conseguindo, depois da abertura dos diques, uma vitórica “heróica”. Como prêmio, William I de Orange ofereceu à cidade a escolha de uma universidade ou uma festa para celebrar. Os habitantes escolheram a universidade, que foi fundada em 1575, sendo a universidade mais antiga do país e a razão de eu estar aqui, afinal é onde marido veio estudar.

Eles ficaram com a universidade mas também têm a festa. Até hoje, no dia 3 de outubro, se celebra o Leiden Ontzet, festa de rua que comemora a libertação da cidade.

Ah! E Rembrandt nasceu aqui, era filho de um dono de moinho. Existe um “tour Rembrandt” pra fazer na cidade, que eu ainda não fiz, e muito me envergonho.

Bem, mas essa ladainha toda é porque eu vou mostrar a foto aérea da cidade. Mas eu vou mostrar a foto porque eu tenho uma ótima notícia.

Depois de morarmos num quarto dividindo banheiro e cozinha (mas pelo menos era no centro) e nos mudarmos pra um studio da universidade super caro, longe do centro e num prédio feioso (mas pelo menos é grande), finalmente conseguimos alugar um apartamento no centro, do lado da universidade, numa casinha lindinha, ainda que velhinha, e numa vizinhança maravilhosa. Agora nem vamos mais precisar andar de ônibus e nem temos que nos preocupar com a hora de voltar pra casa quando sairmos de noite. E como é bem mais barato do que pagamos agora, vamos poder sair mais e, principalmente, juntar mais grana pra viajar.

A rua é um bequinho bem estreito, a coisa mais fofa. Só devemos nos mudar em julho, daí eu mostro direitinho a vizinhança pra vocês.

Por enquanto, ó aí a cidade vista de cima.

Não é uma coisinha linda? A cidadela era toda fortificada, hoje em dia as muralhas não existem mais, mas o desenho dos bastiões ficou, bem como o fosso, que antigamente separava a cidade dos invasores e hoje delimita a cidade velha da nova.

E, no mapa, o quanto a gente melhorou de localização!

A casinha vai ser pequena, mas em breve vai estar pronta pra receber visitas, hein?

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Menu de Cervejas - HERTOG JAN

Gente, eu tenho mostrado aqui algumas das cervejas que provei (ainda faltam tantas...), mas deixei passar sobre os tipos de cada uma dessas cervejas, e isso é muito importante, pois aqui os tipos são bem variados.
No Brasil, todas as cervejas populares (eu disse as populares) são do tipo pilsen. Eu nunca me liguei muito dessas diferenças, mas isso tem muita importância, especialmente pra tentar explicar das diferenças de sabor.
Aqui também tem muita cerveja pilsen, mas o povo tem muito gosto pelas escuras, que geralmente têm o gosto mais forte, são mais encorpadas e possuem maior teor alcoolico.
A cerveja pilsen foi criada em meados do século XIX. Até então só havia cervejas escuras e altamente fermentadas. O novo tipo, mais claro e de sabor mais leve foi criado na cidade de Pilsen, na Bohemia, que fica hoje na República Tcheca.
De agora em diante eu vou incluir essa categoria no Menu também. Acho que deve ficar mais fácil de imaginar a diferença de sabor em relação às cervejas com as quais eu estou acostumada.
Das que mostrei até agora, a Dommelsch, a Heineken e a Bavaria são pilsen. A Belle-Vue Kriek é do tipo lambic, e isso está explicado no post dela.

Isso posto, vamos ao à cerveja do dia:

Quando e onde: Holanda, desde 1911 (essa é engraçada. o fabricante dessa cerveja (que hoje é a Inbev) não coloca a data na lata, eles colocam a data de nascimento do Duque (Hertog) Jan, o homenageado pela cerva, que nasceu em 12oo e bolinha. daí eu vi e pensei: nossa, que cerveja velha. uma pesquisa na net confirmou a farsa)
Tipo: Pilsen
Teor alcóolico: 5,1%
Sabor: O sabor lembra o das cervejas escuras. Tem um amargor bem leve.
Preço: €0,77 por lata (onde faço a feira). Não é cara, mas não dá pra ser feliz um fim-de-semana inteiro com ela.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Keukenhof

O Keukenhof é um parque, conhecido por ter o maior "jardim" do mundo, com mais de 7 milhões de flores (e eu já me liguei que os pernambucanos herdaram a mania de grandeza dos holandeses, porque só pode! Maior jardim do mundo, maior porto da Europa, maior "polder" do mundo, sendo que aparentemente só aqui existem polderes (pequenos canais para drenagem) etc...).
O parque abre todos os anos na primavera, durante 2 meses. É o tempo é em que as flores ficam abertas. Fomos no penúltimo fim de semana e já encontramos muitas flores murchas e muitas outras já foram cortadas. Mas ainda assim o lugar é muito muito bonito.
Apenas as pessoas que simplesmente não gostam mesmo de natureza podem não gostar do lugar. Afinal ele não é só feito de tulipas, tem uma imensa variedade de flores, tem lagos, cascatinhas tipo jardim japonês, parte de "mata" mais fechada (lembrando que toda a paisagem aqui foi planejada) e é tudo muito bem cuidado.
Além de você poder passear pelos jardins temáticos (japoneses, chineses, ingleses e tal...), tem áreas de piquenique, parques infantis, exposição de obras de arte, várias barracas de comida e uma área cheia de pufes pro povão descansar.
A pessoa paga a entrada e pode ficar lá o dia todo. Passeia, quando cansar deita nos pufes, faz piquenique (pode levar seu frango com farofa também), deixa as quianssa no parquinho, uma beleza. Tem também uma praça de eventos. No dia em que estivemos lá, teve apresentação de velhinhos dançando country. Nunca pensei que fosse ver isso na vida, mas achei ótimo da parte deles.
E de qualquer forma tava sol, tava quente e tava todo mundo feliz.

*Botei fotinhas de lá no Picasa.
**Site do Keukenhof.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

A veracidade dos fatos

Eu ia começar o post escrevendo "As pessoas aqui...", mas isso generaliza muito e eu não tenho provas científicas para comprovar o fato que estou prestes a descrever. Na verdade, eu desejo ardorosamente que não sejam todas as pessoas. A frase fica então:
MUITAS pessoas aqui comem CATOTA.

[e sim, é dos adultos que eu estou falando.]

quarta-feira, 7 de maio de 2008

As casas da luz vermelha

Meninos, eu vi! Eu vi as mulheres se vendendo nas vitrines em Amsterdã. Mas ainda não fui ao foco, o famoso Red Light District.

Neste lugar, localizado no centrão de Amsterdã, as prostitutas se mostram de lingerie, nas vitrines das casas. Como em qualquer outro ponto de venda, o produto está exposto para quem se agradar, adquirir. A idéia sempre foi chocante pra mim, algo como o cúmulo da mercantilização do corpo das mulheres, mas de toda forma, as mulheres “de vida fácil” (deve ser mesmo bem facinha...) estão bem mais protegidas num esquema como esse.

Isso porque aqui na Holanda a prostituição é legalizada. O que quer dizer que, além de não ser crime a venda (e a compra) do sexo, existe uma série de medidas de proteção para as prostitutas.

Elas ficam nas vitrines, sim. Mas ninguém pode tirar fotos, filmar, xingar, perturbar, muito menos trepar e não pagar (como o velhinho daquele vídeo hilário) e muito menos ainda bater. Em todos esses casos, basta a mulher apertar um botão que chama direto a polícia.

E eu quase tiro uma foto delas sem querer. É que num belo domingo de sol, marido e eu estávamos em Amsterdã, dando um passeio. A cidade tava fervilhando de turistas e de nativos aproveitando o calor (tava 19º e eu senti calor mesmo). Aí a gente foi andando na rua dos coffeeshops (que não vendem café, se é que vocês me entendem) e dos sexshops e cinemas pornôs. A rua é super movimentada, cheia de turista querendo ficar doidão e de holandês para o qual isso não é muita novidade. É bastante divertido dar uma andada por ali, deveras sui generis.

Daí que numa das quebradas da rua fica localizada a Oude Kerk (Igreja Velha) e eu, como boa arquiteta papa-igreja que sou, corri pra fotografar a dita-cuja, que tem milhares (tá, uma dezena...) de anexos e sai se espalhando. Numa das voltas que a igreja fez, marido avisou: guarde a máquina.

Lá estavam elas, nas casas atrás da igreja (oras, pode ajudar contra a pedofilia, não?). Não era o Red Light District (e a luz vermelha nem tava acesa), eram só algumas espalhadas pelo centro. E é de uma tristeza tão grande... Primeiro que elas eram, com o perdão da má palavra: uns trojões. Segundo que os trojões ficavam lá na vitrine com a maior cara de tédio do mundo. Uma coisa, no mínimo, bem pouco sexy.

Todo mundo que eu conheço que já esteve no Red Light District diz a mesma coisa: que as putas são feias e gordas e que ficam lá com cara de tédio, às vezes fazendo as unhas, esperando que alguém apareça. Acontece que todo mundo que eu conheço passou em Amsterdã de dia, como turista. Segundo um conhecido de Bruno que morou lá, de noite saem as derrubadas, entram as mocinhas do leste europeu. Se isso é verdade, eu não sei nem vou saber, pois não pretendo dar uma espiada lá de noite.

O estranho é que antigamente havia um certo “glamour” desta área, e o governo pretende criar algum tipo de “revitalização”. Acho que isso deve incluir lipo pras garotas, porque os prédios até que estão bem direitinho.

O fato de a prostituição ser liberada e de haver essa “proteção” faz muita gente achar que elas estão ali por escolha (muita gente diz isso das brasileiras, daí só falta achar que as daqui têm uma vida realmente fácil). Só que holandesa que é bom, cadê? Aqui na Holanda, as taxas de desemprego são baixíssimas e o governo faz tudo o que for possível para que um cidadão não precise virar mendigo. Isso faz com que exista um senso geral de que mendigo holandês tá nessa situação porque prefere não trabalhar. Já falei que os mendigos aqui são poliglotas. A educação básica deles é muito boa. Não tô dizendo que não tem holandês pobre, mas pobre é bem diferente de mendigo, não?

Daí que, tirando Hilda Furacão, é bem raro ter mulher que tinha boas oportunidades na vida e simplesmente escolheu virar puta (perdoem o palavrão, é mais fácil de escrever do que “prostituta”) no Red Light District (puta de luxo é outra coisa e não entra nessa discussão).

A maior parte das putas de lá é imigrante. Muitas são da África, muitas são do Leste Europeu. Não sei se tem holandesas, mas se tiver é a minoria das minorias.

Não sei se elas entram aqui legalizadas, não sei se têm visto de trabalho, não faço a menor idéia de como funciona (e esse é um texto assim, super didático, cheio de propriedade).

Só sei que a legalização da prostituição tem a ver com aquilo que já falei da Holanda: a tradição de dar liberdade aliada a uma boa dose de praticidade. É mais fácil liberar e regular do que proibir uma coisa que se sabe que não vai ser erradicada.

É a coisa de liberar, ainda que parcialmente, para exercer maior controle social.


E a foto lá em cima eu catei no google, achei aqui . Tem gente que se aventura a tirar foto, eu sou medrosa e prefiro ficar assim. A polícia daqui é séria, féra.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Menu de Cervejas - BELLE-VUE KRIEK

"Belle-Vue é a cerveja tipo Lambic mais vendida no mundo.
Lambic são cervejas tipicamente belgas, produzidas a partir da fermentação espontânea de micro-organismos presentes no ambiente. Esses micro-organismos se desenvolvem na região de Bruxelas. Sendo assim, Lambic é uma denominação de origem. Somente as cervejas feitas na Bélgica que atendem a determinados requisitos legais podem ser assim classificadas.
A fermentação espontânea gera uma cerveja mais ácida e, por isso, as cervejas desse tipo têm a acidez como uma característica marcante.
Uma autêntica Lambic é feita por um blend de cervejas envelhecidas em barris de carvalho, aos quais se adicionam frutas vermelhas para conferir um sabor e aroma frutados ao produto, além da coloração avermelhada."

Quando e onde: Bélgica, desde 1913
Teor alcóolico: 5,1%
Sabor: Bala Soft (a bala assassina) da vermelha. Um pouco é bom, demais enjoa.
Preço: Cara, mas vale a pena provar por curiosidade. Ninguém vai ficar bebendo muito dela, de toda forma.

Fonte: http://www.costibebidas.com.br/

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Dia da Rainha

Ontem foi o Dia da Rainha (Koninginnedag) aqui na Holanda. É um feriado nacional que celebra o aniversário da dita-cuja. A atual rainha, Beatrix, na verdade nasceu no dia 31 de janeiro, mas como é ruim um feriadão em pleno inverno, ela escolheu que a celebração continuasse no dia da mãe dela, 30 de abril. Supostamente é primavera, mas o tempo estava fechado e com aquela chuva chata da qual sempre reclamo.

Nesse dia (ao que parece, o único feriado na Holanda de conotação nacionalista), os holandeses hasteiam a bandeira nacional em suas casas e saem nas ruas usando a cor do país, o laranja. Geralmente rola uma festa de rua e o tradicional mercado de pulgas, ou mercado livre. Como os holandeses têm mania de juntar tralha, neste dia eles armam suas barracas e botam tudo à venda. Todo mundo é autorizado a vender suas coisas, sem que sejam cobrados impostos sobre isso.

Também rolam parques infantis e apresentações musicais. Na noite anterior, conhecida como Noite da Rainha, rolam grandes festas de rua em Haia.

No dia em si, a maior concentração de pessoas é em Amsterdã, embora Haia e Utrecht também atraiam muita gente.

Nós decidimos passar o dia em Leiden. Eu queria ver como era uma festa de rua aqui. Lamento pesorosamente (ai, drama queen). A festa aqui é o dia da morgação nacional.

Tá, rola gente fantasiada e tal. Tá, rola palquinho com dídgêi (sofrível). Rolou até uma bandinha marcial, que toca em lembrança ao dia da libertação da Holanda na II Guerra.

Mas é muuuuuito parado. É engraçado ver as crianças vendendo suas tralhas, com as carinhas pintadas e gritando feito feirantes (feirantes de outros lugares, porque na feira daqui só tem um ou outro que grita). Mas não empolga muito.

Legal mesmo é o mercado livre. No meio de toda a tralha que o povo leva, tem muuuuita coisa legal, fiquei cheia de vontade. Imagina como deve ser o mercado em Amsterdã, que é pra onde as pessoas com juízo vão.

De resto, fiquei feliz porque, pela primeira vez, pude comprar cerveja numa barraca e beber na rua. Nem no carnaval eu consegui essa proeza...

As crianças e suas tralhas

Eu e a cerveja

sábado, 26 de abril de 2008

O clima engraçadinho

Quando fiz um post reclamando do começo gelado da primavera, eu disse que o jeito era esperar pra ver se o tempo se firmava de abril em diante.

Pois é... estamos quase no fim de abril e isso ainda não aconteceu. Por mais de uma semana, fez sol, um tempo lindo e uma faixa de 17º.

Aí o tempo achou que tava bom né? Vamos acabar com a felicidade desses coitados. E tudo nublou de novo, voltou a chover aquela chuva que não molha, um saco.

Na minha terra isso é chamado de couro-de-p*** (preencha os asteriscos da forma que melhor encaixa).

É por isso que os holandeses são viciados em previsão do tempo. Tipo, checam praticamente todo dia. Eu também viciei. Entro todo dia no weather.com, vejo a temperatura naquele momento, vejo o áuabaiáua (hour-by-hour) e também a previsão para os próximos 10 dias, na esperança de dias melhores, mais ensolarados e quentinhos.


Daí que eu escrevi isso revoltadinha, ontem. E hoje está fazendo 21º (!!!). Dia lindo da peeeeeeeeeeste!!!

Ai, gente. Eu fico sem querer me animar muito sabe? Já tive experiência o suficiente pra saber que isso não quer dizer nada. Mas eu sou abestalhada e já fiquei tooooda animada...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Transporte público

Eu estou lendo atualmente um livro bastante interessante, chamado “How to survive Holland – Dealing with the Dutch before they deal with you”, de Martijn de Rooi, indicado (e emprestado) por Daniel e Mila.

O livro é tipo um “manual de sobrevivência” para o estrangeiro na Holanda, falando dos lugares, usos, costumes e tirando muita onda. Foi escrito por um holandês, o que é bem melhor, já que é sempre preferível que seja um deles a tirar onda né? Ele apresenta vários dados que corroboram o que eu já estava achando, e tantos outros que eu nem imaginava.

Por exemplo: ele fala que os holandeses reclamam muito do sistema de transporte público daqui.

Coméquié, féra?

Sério, o povo do primeiro mundo tá ficando mimado demais. Uma voltinha de Rio Doce-CDU na hora do rush e esse povo aprende a não reclamar de barriga cheia.

O sistema daqui, pra mim, é simplesmente praticamente perfeito.

Quer pegar um ônibus pra ir na casa dos amigos? Marcou pra que horas? Nove horas? Beleza. Vai no site da empresa de ônibus e coloca o ônibus que você quer pegar. Ele vai te dizer exatamente a hora em que ele vai passar na tua parada e a hora em que ele chega na parada do teu amigo. E a coisa é precisa meeeeesmo. Comigo, geralmente se o ônibus não chega na hora marcada, é meu relógio que não tá na hora certa. E isso não é complexo de terceiro-mundista não, digo logo. Porque eu já sei que meu relógio é 4min atrasado em relação ao do ônibus e nunca falha. Por que eu não acerto meu relógio? Porque eu não quero ceder, oras.

Tanto é preciso, que muuuuitas vezes quando o ônibus anda mais rápido, acaba ficando parado na parada (cacofonia dos diabos) esperando dar a hora de sair dela. Pois é, filhos. Se o ônibus chegar mais cedo do que devia na parada, ele fica lá esperando dar a hora de sair. Vai que ele passa mais cedo e alguém perde o ônibus por ser pontual? Eu mesma não me acostumo e sempre tento chegar na parada 5min antes, porque como boa brasileira que sou, já perdi várias vezes a hora.

Isso não é só com ônibus não. Com trem e bonde é a mesmíssima coisa. Bonde não tem em toda cidade, aqui em Leiden não tem, então vou passar essa.

Para os trens, você acessa o site também. Diz de qual estação você sai e para qual estação você vai e que horas você quer sair/chegar. Ele especifica tudo direitinho: a hora em que o trem sai, qual o trem, a plataforma, o tipo de trem – se é sneltrein (trem rápido), stoptrein (pinga-pinga), intercity (dá pra entender) – e a hora em que ele chega, em que plataforma chega e tals. Além, claro, de dizer o valor da viagem.

Ah, vocês podem pensar: e se eu não sei qual o ônibus que tenho que pegar e em qual parada desço? Ah, eu respondo: você acessa o site 9292 e diz de que rua você sai e em que rua você quer chegar (pra a mesma cidade ou pra cidades diferentes). Aí ele te explica assim: você caminha 1min até a sua parada, pega o ônibus tal que passa de x horas, desce em tal parada, caminha 5min e chega em seu destino. E se for em cidade diferente, ele diz também qual o trem e blablabla. Tudo com os devidos valores de passagens.

E assim, você se programa perfeitamente. Rola atraso de vez em quando? Rola. O livro diz que a taxa de atraso dos trens é de 15%. Dá pra morrer? Falando em morte, às vezes essa é a causa do atraso. Tipo, de vez em quando alguém se joga nos trilhos e o lugar fica interditado.

Claro que quem não tem internet se resolve também. As mesmas informações dos sites também estão disponíveis em placas em todas as paradas de ônibus e nas estações. O serviço 9292 também é disponível por telefone.

Estudante entra de graça. Velhinhos também. E se você não entra nas categorias de descontos, você pode comprar um cartão de desconto. O de trens baixa em 40% as taxas e você pode comprar com desconto pra você e mais 3 pessoas. E tem cartão de desconto pra viagem internacional de trem também.

Pra mim a maior merda mesmo é não ter bacural. Geralmente, depois de meia-noite, acabou-se ônibus. Se for pra náite, volte cedo ou volte a pé. Se dirigir, não pode ficar bêbado, mesmo. E andar de bicicleta bêbado não é recomendável.

Pois bem, agora que eu descrevi isso, já dá pra entender porque os holandeses reclamam. É bom demais ser mimado, não é mesmo, pessoal?

Ruim é pra quem tem que te agüentar depois do estrago feito...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Tamanho é documento?

Ontem fomos ao aniversário de uma amiga em Gorinchem, uma cidade pequena e super graciosa localizada mais ao centro da Holanda. Pra situar, Leiden fica no Leste, bem pouco afastada da costa.
Levamos quase 1h30 pra chegar lá de trem, tempo danado levando em consideração que a maior parte das vezes viajamos menos de 1h.
No caminho, paisagens mais diferentes, mais rurais.
Aí marido e eu ficamos discutindo o tamanho da Holanda, comparado ao do Brasil.
1h30 era o tempo que eu levava facinho no Rio Doce-CDU pra chegar na faculdade logo cedo. Ou, também facinho, o tempo que eu esperava pelo Ceasa-Casa Amarela na saída do CAC.
Aqui, minhas relações com tempo e distância têm mudado bastante (também minhas percepções em relação à área construída e ao tamanho dos ambientes que você precisa pra viver).
Eu sempre comparava a Holanda com Sergipe, daí resolvi checar:
Sergipe: 21910 km2
Holanda: 41526
km2
A Holanda é quase o dobro de Sergipe. O tamanho dela, na verdade, é um pouco maior que o da nossa Ilha de Marajó (40100 km2).
Grandona nénão?
O legal é que todas as cidades em que fomos são diferentes umas das outras. Cada uma tem sua graça e seu diferencial (apesar de nas fotos as casas parecerem todas iguais, digo logo).
Mas o mais legal meeeeesmo é que num instante dá pra conhecer esse país tãããão grande quase todinho.

*Fotos de Gorinchem no Flickr.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Menu de Brebotos - TURKSE PIZZA

Dos mesmos produtores do Shoarma, outro prato predileto: a Turkse Pizza. Como bem dá pra entender, Pizza Turca.
O breboto consiste de uma massa redonda fininha e crocante, de uns 40cm de diâmetro. Sobre a massa, carne que eu suponho ser de carneiro, bem moidinha. Daí eles pegam essa base, assam no forno e depois colocam salada e molho, que variam de acordo com o lugar onde você come. Tem lugares que fazem um "selfselve" e você escolhe o que quer. Onde comemos, na padaria do house árabe, o recheio geralmente tem alface, pepino, repolho e mais alguns matos e o molho é à base de alho e iogurte.
Depois de feito o recheio, a pizza é enrolada e coberta com papel alumínio. Fica então super prático, já que você pode pegar e sair comendo mesmo que esteja na maior pressa.
Quando cheguei aqui, via muitos holandeses na rua com esse cilindro prateado (eita, pegou mal) e me perguntava o que era.
E não é à toa que tanta gente come. Além de ser prática, é super de-lí-cia e leve, especialmente se comparada com o "primo" shoarma.
A turkse pizza não é vendida só em estabelecimentos de turcos. Os gregos também têm suas versões de shoarma e pizza, muito provavelmente causadas pelo período de domínio Turco Otomano no país.
Também os estabelecimentos holandeses vendem a pizza. Só que nos holandeses, você pode mudar o molho pra comer com maionese e até catchup. Por isso prefiro ir nos turcos mesmo, é muito mais gostoso lá.
Além do que, poxavida, comer ouvindo house árabe... onde mais?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sobre imigrantes II

Bruno (o bêbo) me perguntou no comentário do post abaixo se eu nunca fui confundida com muçulmana.
Antes de virmos morar aqui, Bruno (o meu marido) dizia que os holandeses iam achar que eu era turca. Porque as turcas em geral são também morenas do cabelo cacheado e nem todas elas usam véu, ou seja...
Eu estranhei um pouco e chegando aqui realmente não me achei parecida. O tipo é bem diferente, em especial o nariz (hehehe), além de elas andarem com os olhos bem pintados e tal.
Mas tipo, normal um holandês achar que eu sou turca. Estranho seriam os turcos acharem isso. Afinal, eles deveriam saber reconhecer o próprio tipo.
Acontece que ao chegarmos aqui, mais de uma pessoa achou que Bruno (já sabem qual né?) era europeu ou mesmo holandês e eu era a estrangeira que deu o golpe do passaporte.
Às vezes a gente passa entre turcos e eles ficam olhando meio enviesado. Como se achassem que eu traí o movimento punk turco.
Mas também ninguém nunca me perguntou se eu sou turca ou muçulmana.
De repente o olhar enviesado é o jeito deles mesmo. Aquele jeito meio hiphop-wannabe que já falei ali embaixo.
A culpa é da MTV, que saiu dizendo por aí que o estilo gangsta é legal.
Essa sim, traiu o movimento punk.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sobre imigrantes

Quando cheguei na Holanda, me surpreendi com a diversidade de culturas que encontrei aqui. Vinda de um país notoriamente multicultural, eu mesma descendente das três raças das quais resultaram esse “amálgama” que é o Brasil (ai, que piegas), foi aqui que a diversidade me surpreendeu. Acho que com a minha eu já tava deveras acostumada né? Até porque tem gente aqui que acha super-estranho eu ser “black” e meu marido ser “white”.

Coisas de quem supostamente não se misturou demais, mas não olha direito pra quem tá passando na calçada em frente à sua casa.

Explico: aqui, além de holandeses (o óbvio ululante), existe uma grande população muçulmana (predominantemente turca e marroquina. Eu costumo dizer “árabes”, mas a bem da verdade não sei se todo muçulmando é árabe), asiática (China, Vietnã, Japão e tudo aquilo que eu não consigo distinguir, além de Índia).

Existe muita gente também do Suriname, colônia holandesa que se tornou independente em 1975. Antes de sua independência ser declarada, a Holanda permitiu que seus cidadãos viessem residir aqui, caso desejassem. Muita gente veio. Tem também muita gente das Antilhas Holandesas, que ainda fazem parte do Reino dos Países Baixos.

Essa superpopulação de imigrantes é tradicional aqui da Holanda. O país se ergueu tomando como base o princípio da cidadania, da igualdade entre os cidadãos, tolerância com diferentes religiões, entre tantas outras coisas que fazem o país ser conhecido como um dos mais permissivos e liberais do mundo. É algo como: cada um cuida de sua vida. Além de drogas leves e da prostituição, aborto, eutanásia e casamento homossexual são liberados.

Tudo isso é muito bonito mas também é também muito prático, já que, desde os primórdios, a Holanda precisou de mão-de-obra externa pra se firmar como potência internacional que foi. Um país que deveria estar embaixo da água sempre precisou de muito trabalho pra vencer essa “guerra” contra a água, como eles chamam. “Cada um vive a sua vida, mas a gente precisa de trabalho coletivo pra manter o país seco”. Essa relativa liberdade relativamente interesseira (uma liberdade controlada, pois os holandeses controlam todos os aspectos da vida pública nas cidades, e isso é claramente expresso em seu urbanismo, mas isso é assunto pra outro post...) foi desde o começo um grande atrativo para imigrantes.

Resultado: o país manteve a tradição de portas abertas e “venham a mim os trabalhadores”. Agora cerca de 10% da sua população é de imigrantes. Está começando a incomodar.

Pra se ter uma idéia, hoje em dia, a população holandesa é de 16,5 milhões de pessoas. Cerca de meio milhão é de muçulmanos. Não é de se estranhar que a maior implicância seja com eles.

A secretária do departamento de história veio dia desses conversar sobre esse assunto com Bruno. Ela disse que não queria que ele achasse que ela é de direita e que a imigração de “brancos” como ele não incomoda (uma morena como eu será que incomoda?), mas que os turcos e os marroquinos causam problemas, como violência e arruaças. Que essas pessoas andam em grupos, que desrespeitam os policiais, causam desordem e muitas vezes atacam judeus. Ela disse que o marido dela foi atacado pelo jardineiro e que amigos judeus dela foram agredidos nas ruas. Disse também que 90% da população carcerária é de marroquinos (em uma revista, vimos que era na verdade de antilhanos, portanto, de cidadãos dos países baixos).

É verdade que em geral você encontra grupos de meninos árabes andando naquele jeito meio hip hop- gangsta wannabe, mas também não posso entrar numa de achar que eles são marginais por causa disso.

O fato é que setores políticos conservadores já começam a defender a idéia de que eles sejam mandados de volta a seus países, pois julgam que eles ameaçam a cultura holandesa. Dizem que o Corão é fascista e têm, eles mesmos, tentado espalhar o medo na população.

Depois do assassinato do cineasta Theo van Gogh em 2005, por um radical islâmico após ele ter lançado um documentário expondo a situação da mulher no Islã (não sei o teor do video), quem mais tem se destacado nesse campo é o deputado de extrema direita Geert Wilders. Ele produziu um video amador chamado Fitna, alegando que o corão estimula a violência e, de maneira infantil e simplista, tenta causar pânico de que a Holanda venha a se tornar um Afeganistão. Para saber mais do vídeo, vale ver o post do blog (A)berração (nepotismo, é o blog do meu marido, mas pelo menos a explicação está em português).

Muitos holandeses acham o vídeo uma vergonha e querem que ele seja banido. As organizações muçulmanas pediram que os fiéis ignorem o coitado e deixem pra lá.

E ninguém sabe onde isso vai parar.

De qualquer forma, é bom lembrar que, diferentemente da Dinamarca (com a confusão das charges de Maomé), aqui na Holanda nem a morte de van Gogh (o medíocre), nem o lançamento do Fitna levaram a protestos violentos ou outros tipos de confusão. O assassinato do cineasta foi encarado como obra de um indivíduo radical isoladamente.


Quanto à minha condição de imigrante, não sinto nenhum preconceito. Como já disse, as pessoas são gentis e solícitas e em geral se derretem todas quando falo que sou do Brasil. A própria secretária que falou em imigração “branca” tem dois posters do Brasil em sua sala. Pra não dizer que não falei dos chatos, houve 2: um cara do banco e um motorista de ônibus que reclamou porque dei muitas moedas. Mais fácil assumir que eles são mal-amados do que dizer que tiveram preconceito comigo.

Claro que ainda posso mudar de opinião ao longo de quase 4 anos. Claro que não convivo com holandeses. Claro também que se fossem 500 mil brasileiros aqui, a situação ia ser bem diferente. Por enquanto vai tudo bem. E olha que eu moro num bairro cheeeeeeio de muçulmanos.


No fim de tudo, a pergunta que não cala em meu coração é: será que Geert Wilders curte um shoarma? Será que ele come escondido? Ou fica só na patat met?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Alguma escatalogia

Essa é pra quem não conhece ou não consegue visualizar a privada holandesa.
Sim, pessoal. Ela é diferente. O buraco dela é na frente, ó:

Acho que essa foto horrível ajuda a visualizar (não, não é a privada da minha casa...).
Daí que quando você faz o número 2, ele fica na louça, olhando pra você sabe?
Por esse motivo, essa privada é o terror dos estrangeiros.
Eu particularmente gosto, porque dessa forma não tem nenhum perigo de a água voltar pra sua bunda, sabe como é? Mas se a descarga for fraca, isso pode ser um probleeeema. Você tem que ficar encarando seu - como vamos dizer de maneira elegante... seus dejetos... até que a descarga resolva funcionar. Um tanto quanto desagradável, pode-se dizer.
Mas de qualquer forma, parece que isso está mudando. Nas casas novas, já são usadas privadas normais, como as do resto do mundo (o mundo que usa privada, não o mundo que usa buraco no chão ou coisa que o valha).
Eu sinceramente, acho bobagem. Porque mudar uma coisa tão típica e íntima de um povo?

sexta-feira, 28 de março de 2008

Menu de Brebotos - PATAT MET

Batata (aardapel) é o alimento-base da refeição dos holandeses. É o carboidrato deles, o que o arroz é pra nós.
A patat é a batata frita. Nem precisa falar o quanto esse prato é querido no mundo inteiro.

Quem gosta de Pulp Fiction lembra: Vincent Vega (John Travoltaaaaah) falando das coisas estranhas da Europa, daí segue o diálogo (traduzido e com lembranças da cabeça, pessoal...):
- sabe o que os holandeses comem com batata frita?
- o quê?
- maionese.
- eeeeeeeew...
- eu vi, cara. eles afundam as batatas naquela merda.

Pois é. Esse é o breboto típico daqui. A conhecida Patat Met Mayonese, carinhosamente chamada apenas de Patat Met (met quer dizer 'com').
E é assim mesmo: a batata literalmente é afogada pela maionese.
E eu devo afirmar: Vincent Vega VIU, mas não PROVOU.
Se ele tivesse provado, o diálogo seria assim:
- sabe o que os holandeses comem com batata frita?
- o quê?
- maionese.
- eeeeeeeew...
- tá pensando o quê cara? é a melhor batata que já comi na minha vida. com a melhor maionese ÉVA!

É isso pessoal. Não torçam os narizes, não olhem de cara feia. Pode parecer uma combinação estranha, mas é perfeita. A maionese é deliciosa, virei totalmente fã (para desespero meu, com medo de acabar virando uma vaca gorda).
Quando eu voltar pra minha terrinha, já sei que é uma das coisas que vai me fazer mais falta.
Ah! Aquela patat met...

terça-feira, 25 de março de 2008

A primavera chegou

Depois de sofrer com um frio que eu nunca senti igual, me acostumar com ele, ficar feliz com os dias de sol e calorzinho e sentir esperanças de uma primavera de sol e flores, ela chegou, no dia 21 de março, que caiu na sexta-feira santa.

Nos países aqui do norte, a Páscoa é uma tradição mais antiga do que Jesus, que celebra a renovação trazida pela primavera. Depois de passar o inverno “morta”, a natureza renasce, brotos de folhas começam a surgir nas árvores secas e aqui na Holanda já tem flor pra todo lado. A paisagem está bem mais colorida, uma beleza.

Daí, né... eu encarnei essa história de renovação e acreditei que o dia 21 e os dias seguintes seriam de um tempo lindo, que me faria planejar dias de sol na minha varanda até então abandonada, piqueniques em parques e todas essas coisas prosaicas que as pessoas que vivem com 4 estações fazem intensamente nos tempos mais quentes.

Mas o tempo aqui também é engraçadinho.

E acabou que no dia 21 tava com temperaturas negativas e choveu grosso. Resultado: granizo. Mas granizo meeeeeesmo... quase nevou. Depois, abriu um sol de lascar (relativo ao tempo que estava fazendo antes, gente, não a um sol propriamente de lascar).

Desde então tem sido assim: fica frio, chove granizo, abre sol pra tirar onda da sua cara e fica frio de novo. Tem até nevado de noite. Na manhã de ontem, a paisagem estava assim:

Grama cobertinha de neve, que na verdade já estava derretendo por causa do sol que abriu.

Fala sério né... durante o inverno só teve um dia em que ficou tudo branquinho e de resto nadica de nada. Só vi neve uma vez no inverno, por menos de 5min. Agora tá essa palhaçada. Mesmo quando tá fazendo sol, a sensação térmica fica negativa.

Hoje, às 18h05 tava sol e tempo aberto. 50min depois, tava nevando.

O jeito é eu transferir minhas esperanças de um tempo mais firme pra abril, maio, junho... julho e agosto já volta a chover...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Lista 01

Coisas que eu gosto: inglês
Como já falei, aqui quase todo mundo sabe falar inglês, habilidade indispensável para um país com tantos imigrantes como esse. E melhor: eles não se incomodam de falar em inglês, caso você não consiga dizer lé com cré na língua deles.
Não sei muito do sistema educacional daqui, aliás, não sei nada. Mas acredito que essa coisa da fluência em inglês é um ponto muito positivo da educação. Praticamente todos os holandeses com quem conversei têm uma fluência absurda (na verdade apenas uma vendedora com quem conversei não tinha), muito maior que a minha. E olhe que eles aprenderam na escola, e eu fiz vááários anos de cursos de inglês, já que na escola mesmo o ensino é uma bela porcaria.
O que é interessante é que, como o aprendizado é na escola, as crianças falam pouco, os adultos falam muito bem. No Brasil é ao contrário, os mais novos é que geralmente são os feras.
Ponto pra educação deles (nesse quesito em especial hein? de resto nem sei), que facilita a minha vida.

Coisas que não gosto: saúde
O sistema de saúde aqui é assim: você se sente mal, ou tem algum problema persistente, sei lá, você marca de ir no huisarts. Essa figura é um médico, tipo clínico geral, que costuma ter seu consultório na própria casa. Só que é o seguinte: eles costumam atender as mesmas famílias sempre e nem todos aceitam novos pacientes. Tipo, você não pode simplesmente ligar pra qualquer médico e marcar de ir lá. Quando chegamos aqui recebemos da universidade uma lista de médicos que aceitam novos pacientes.
Se você tem algum problema grave, aliás, se o huisarts achar que você tem algum problema grave, aí sim ele te encaminha para uma clínica ou hospital.
Então fica combinado: quebrou o braço, teve crise de apendicite, pedras nos rins, nada de ir em emergência 24h. Marca com o huisarts, vai na casa dele ou ele vai na tua (mais caro) e, se ele achar que deve, te manda pro hospital. Prático não?
Daí que o huisarts tem que ter um conhecimento beeeeeem amplo de medicina, já que você não vai a médicos específicos de cara. E se você tem um problema que ele não conhece? Ele joga no Google, ué! Juro!
E aqui eles têm uma cultura de não passar muitos remédios, que acho ter sido uma resposta bem radical aos exageros da hipocondria (presentes em nosso país). Também responderam aos excessos de cesariana deixando a mulher em trabalho de parto até a criança resolver nascer.
E também não têm cultura da prevenção. Eles, práticos como são, descobriram que é mais barato curar um câncer de útero do que gastar com exames preventivos anuais para cada mulher com vida sexual. É melhor remediar do que prevenir.
Mas tipo, sabe que um tumor de câncer pode passar anos dentro de você sem ser percebido? E sabe que se ele não for superficial, que dê pra você sentir sob a pele, você só vai saber da existência dele quando começar a doer, assim, quando o tumor estiver tão grande que vai começar a disputar espaço com seus órgãos?
E se você chega sentindo uma dor e o huisarts diz que é dor de barriga e manda você pra casa descansar?
Essa semana ouvimos a história da esposa de um recifense que mora em Haia (ministro da embaixada, gente). Ela tava bem mal, e o huisarts falou que era gripe e mandou ela repousar. Por insistência do marido, acabou que bem um mês depois, descobriram que era diabetes...
E eu? Rezo (mentira, mas espero muito) pra nunca precisar.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Menu de Cervejas - DUVEL

Antes de mais nada: Duvel quer dizer diabo, coisa-ruim, satã, capeta, capiroto, sete peles, tinhoso, aquele lá de baixo...
Só não quer dizer Lúcifer, porque Lúcifer é como se chama fósforo aqui (a galera aqui nunca ouviu falar que quando você diz o nome do cão ele dá um passo em sua direção? ainda bem que já disse tanto que ele deve ter passado direto...).
Também não quer dizer Demo, porque isso é o ex-PFL.
Agora, aos dados:

Quando e onde: Bélgica, desde 1871
Teor alcóolico: 8,5% (agooooooooora!)
Sabor: de primeira achei meio forte (marnumdjiga!) e amarga para o meu delicado paladar. Depois da primeira, você muda de opinião e é aí que mora o perigo.
Preço: cara, mas convenhamos que você vai precisar de bem menos garrafas pra ficar zuzubeim...

Pra encher a cara e... o cão... foi quem butô... pra nóis bebê...

sexta-feira, 14 de março de 2008

Minha primeira palestra

Eu ainda tô terminando meu curso de restauro. Como trabalho final do curso, Tinoco me pediu pra fazer um artigo comparando as obras de restauro daqui com as do Brasil.
Daí eu escrevi para o professor da Universidade de Delft que conheci no Seminário Internacional em Recife, pedindo uma ajuda, tipos literatura ou legislação que me ajudem a entender mais como as coisas funcionam aqui.
Em um e-mail muito simpático (mentira, o e-mail foi curto e grosso, mas ainda bem que ele me mandou um outro mais legal depois) ele me encaminhou um cartaz de uma série de debates sobre restauro que vão rolar na TU Delft nesse mês e no ôto.
Mão na roda! Daí ontem fomos tentar ver o tal debate. Pra isso, pegar trem pra Delft, da estação pegar um ônibus pra universidade. Foi a maior correria, pois as ruas da Univ tão em obras e a parada de ônibus onde achávamos que íamos pegar o busão na volta estava desativada.
A gente não podia pegar o mesmo bus que pegamos na vinda, pura e simplesmente porque Delft é provinciana pacarai e, caros amigos, o tal ônibus deixa de passar depois que acaba o horário de aulas. Daí corremos, corremos e não achamos a parada pra volta. Resolvemos deixar pro fim da palestra mesmo. O que é um peido...
Aí chegamos na sala onde o evento estava marcado. Entramos, tranqüilo...
Daí fala marido: o slide está em holandês. Não era pra ser em inglês?
Eu: putz, não é possível. O cartaz tava em inglês e po, Paul sabe que eu não falo holandês, que puta sacanagem!
Daí o mediador do debate começa a falar. Num inglês lindo, chega dava gosto. Mas foi só pra eu me aliviar e ele dizer: os debatedores escolheram apresentar em holandês...
Tinha muitos outros estudantes internacionais lá e só se ouviu um "aaaaaaah" de decepção.
Daí eu e marido nos retiramos, porque eu posso até estar féra-nenêm e ter traduzido um textinho pra vocês, mas palestra em holandês num rola néam?
E a droga era pra ser em inglês, que é a língua oficial do mestrado lá. Depois que saímos, duas outras pessoas caíram fora também.
Corremos e conseguimos pegar o último ônibus provinciano de volta pra estação.
Saldo: zero primeira palestra, €20 jogados no lixo.
Mas como pupila de Pollyanna eu sou, ainda vi um lado bom... Pelo menos eu vi a biblioteca do Mecanoo, linda linda. Gata mesmo, pessoal.
Só que com a correria, nem foto tirei. Da próxima vez eu tiro.
Sim, porque vou tentar de novo. Torçam aí pros próximos saberem falar inglês!

quarta-feira, 12 de março de 2008

De kinderen ou as “quianssa”

Os holandeses procriam muito. Mais que a maioria dos países europeus. Aqui é bem comum ver famílias com 2 ou 3 crianças (em muitos países por aqui, a média é de menos de 1 criança por família).

Daí, é bem comum na rua você ver as famílias inteiras passeando nas ruas, em bicicletas e em carrinhos de bebê, só que aqui eles levam crianças de 3, 4 anos ou mais em carrinhos. Preguiça de esperar a criança caminhar... tsc, tsc...

Nas bicicletas, é uma graça. Tem um tipo de bicicleta com um balaio na frente, pra eles levarem os menorezinhos. Os maiores vão na garupa. Dá pra carregar a filharada inteira numa bixcreta só.

O melhor é quando tá bem frio. O balaio fica coberto com uma capa, assim como os carrinhos. Dentro você só vê aquele “pacote” que consiste do bebê mais 57 camadas de roupa. Mal se mexe. Se não fosse pela carinha rosada (queimada de frio), dava pra achar que é um boneco. Me dá uma aflição danada, imagina eu mãe aqui, ia sempre ficar com medo de o bebê não estar suficientemente aquecido e o balaio ia acabar virando uma sauna.

Esses métodos de transporte permitem que eles facilmente levem os pirras pra passear. Faça chuva ou faça frio (o sol não faz muita diferença), lá estão eles passeando.

Além da filharada nativa, tem também a árabe. Suuuuuper comum ver mamães com lenço na cabeça e uma penca de menino. Mas esses eu não vejo muito em bicicleta não, apesar de terem aderido ao carrinho pra bebês gigantes.

As crianças holandesas em geral são lindas, loiras e... sujas.

Gente, como pode? A criança tá com o nariz escorrendo, a mãe assoa com a mão e limpa no casaco do pirra.

Sem falar nos cabelos. Aquele cabelo liso, tipo escorrega-piolho, fica duro que só vendo. Tiram o gorro e o cabelo permanece na forma em que estava. Acúmulo de sebo e gel (eles adoram gel, os meninos quase sempre andam de cabelo espetado). Daqui a pouco, não precisam mais usar o gel, o cabelinho fica tão duro que dá pra moldar direitinho a forma que eles querem e nem o vento daqui tira do lugar.

Também é bem comum ver os pais dando rela nos filhos. Pense na moral! Até eu fico com medo. Dá um apertão no queixo do menino e agora-num-fique-queto-não! Brabeza... ou frieza... vai saber...

Segundo informações de Mila, que tá fazendo baby-sitter, as crianças dormem “amarradas”. Tipo, num saquinho de dormir, mas que prende os bracinhos sabe? Minino, acho que a gente dá muita liberdade pras nossas crianças, ou a galera aqui é que anda muito cheia das disciplinas?

Ainda segundo Mila, a mãe faz massagem no bebê com óleo, depois passa água e tá dado o banho! Acho que aqui não rola aquele fascínio pelo cheirinho de bebê.

Mas como diria Pollyanna, tudo tem seu lado bom. Ser mãe aqui permite que você compre as coisinhas maaaais fofas pros filhotes... aiai...