Coisas que eu gosto: inglês
Como já falei, aqui quase todo mundo sabe falar inglês, habilidade indispensável para um país com tantos imigrantes como esse. E melhor: eles não se incomodam de falar em inglês, caso você não consiga dizer lé com cré na língua deles.
Não sei muito do sistema educacional daqui, aliás, não sei nada. Mas acredito que essa coisa da fluência em inglês é um ponto muito positivo da educação. Praticamente todos os holandeses com quem conversei têm uma fluência absurda (na verdade apenas uma vendedora com quem conversei não tinha), muito maior que a minha. E olhe que eles aprenderam na escola, e eu fiz vááários anos de cursos de inglês, já que na escola mesmo o ensino é uma bela porcaria.
O que é interessante é que, como o aprendizado é na escola, as crianças falam pouco, os adultos falam muito bem. No Brasil é ao contrário, os mais novos é que geralmente são os feras.
Ponto pra educação deles (nesse quesito em especial hein? de resto nem sei), que facilita a minha vida.
Coisas que não gosto: saúde
O sistema de saúde aqui é assim: você se sente mal, ou tem algum problema persistente, sei lá, você marca de ir no huisarts. Essa figura é um médico, tipo clínico geral, que costuma ter seu consultório na própria casa. Só que é o seguinte: eles costumam atender as mesmas famílias sempre e nem todos aceitam novos pacientes. Tipo, você não pode simplesmente ligar pra qualquer médico e marcar de ir lá. Quando chegamos aqui recebemos da universidade uma lista de médicos que aceitam novos pacientes.
Se você tem algum problema grave, aliás, se o huisarts achar que você tem algum problema grave, aí sim ele te encaminha para uma clínica ou hospital.
Então fica combinado: quebrou o braço, teve crise de apendicite, pedras nos rins, nada de ir em emergência 24h. Marca com o huisarts, vai na casa dele ou ele vai na tua (mais caro) e, se ele achar que deve, te manda pro hospital. Prático não?
Daí que o huisarts tem que ter um conhecimento beeeeeem amplo de medicina, já que você não vai a médicos específicos de cara. E se você tem um problema que ele não conhece? Ele joga no Google, ué! Juro!
E aqui eles têm uma cultura de não passar muitos remédios, que acho ter sido uma resposta bem radical aos exageros da hipocondria (presentes em nosso país). Também responderam aos excessos de cesariana deixando a mulher em trabalho de parto até a criança resolver nascer.
E também não têm cultura da prevenção. Eles, práticos como são, descobriram que é mais barato curar um câncer de útero do que gastar com exames preventivos anuais para cada mulher com vida sexual. É melhor remediar do que prevenir.
Mas tipo, sabe que um tumor de câncer pode passar anos dentro de você sem ser percebido? E sabe que se ele não for superficial, que dê pra você sentir sob a pele, você só vai saber da existência dele quando começar a doer, assim, quando o tumor estiver tão grande que vai começar a disputar espaço com seus órgãos?
E se você chega sentindo uma dor e o huisarts diz que é dor de barriga e manda você pra casa descansar?
Essa semana ouvimos a história da esposa de um recifense que mora em Haia (ministro da embaixada, gente). Ela tava bem mal, e o huisarts falou que era gripe e mandou ela repousar. Por insistência do marido, acabou que bem um mês depois, descobriram que era diabetes...
E eu? Rezo (mentira, mas espero muito) pra nunca precisar.
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