quarta-feira, 7 de maio de 2008

As casas da luz vermelha

Meninos, eu vi! Eu vi as mulheres se vendendo nas vitrines em Amsterdã. Mas ainda não fui ao foco, o famoso Red Light District.

Neste lugar, localizado no centrão de Amsterdã, as prostitutas se mostram de lingerie, nas vitrines das casas. Como em qualquer outro ponto de venda, o produto está exposto para quem se agradar, adquirir. A idéia sempre foi chocante pra mim, algo como o cúmulo da mercantilização do corpo das mulheres, mas de toda forma, as mulheres “de vida fácil” (deve ser mesmo bem facinha...) estão bem mais protegidas num esquema como esse.

Isso porque aqui na Holanda a prostituição é legalizada. O que quer dizer que, além de não ser crime a venda (e a compra) do sexo, existe uma série de medidas de proteção para as prostitutas.

Elas ficam nas vitrines, sim. Mas ninguém pode tirar fotos, filmar, xingar, perturbar, muito menos trepar e não pagar (como o velhinho daquele vídeo hilário) e muito menos ainda bater. Em todos esses casos, basta a mulher apertar um botão que chama direto a polícia.

E eu quase tiro uma foto delas sem querer. É que num belo domingo de sol, marido e eu estávamos em Amsterdã, dando um passeio. A cidade tava fervilhando de turistas e de nativos aproveitando o calor (tava 19º e eu senti calor mesmo). Aí a gente foi andando na rua dos coffeeshops (que não vendem café, se é que vocês me entendem) e dos sexshops e cinemas pornôs. A rua é super movimentada, cheia de turista querendo ficar doidão e de holandês para o qual isso não é muita novidade. É bastante divertido dar uma andada por ali, deveras sui generis.

Daí que numa das quebradas da rua fica localizada a Oude Kerk (Igreja Velha) e eu, como boa arquiteta papa-igreja que sou, corri pra fotografar a dita-cuja, que tem milhares (tá, uma dezena...) de anexos e sai se espalhando. Numa das voltas que a igreja fez, marido avisou: guarde a máquina.

Lá estavam elas, nas casas atrás da igreja (oras, pode ajudar contra a pedofilia, não?). Não era o Red Light District (e a luz vermelha nem tava acesa), eram só algumas espalhadas pelo centro. E é de uma tristeza tão grande... Primeiro que elas eram, com o perdão da má palavra: uns trojões. Segundo que os trojões ficavam lá na vitrine com a maior cara de tédio do mundo. Uma coisa, no mínimo, bem pouco sexy.

Todo mundo que eu conheço que já esteve no Red Light District diz a mesma coisa: que as putas são feias e gordas e que ficam lá com cara de tédio, às vezes fazendo as unhas, esperando que alguém apareça. Acontece que todo mundo que eu conheço passou em Amsterdã de dia, como turista. Segundo um conhecido de Bruno que morou lá, de noite saem as derrubadas, entram as mocinhas do leste europeu. Se isso é verdade, eu não sei nem vou saber, pois não pretendo dar uma espiada lá de noite.

O estranho é que antigamente havia um certo “glamour” desta área, e o governo pretende criar algum tipo de “revitalização”. Acho que isso deve incluir lipo pras garotas, porque os prédios até que estão bem direitinho.

O fato de a prostituição ser liberada e de haver essa “proteção” faz muita gente achar que elas estão ali por escolha (muita gente diz isso das brasileiras, daí só falta achar que as daqui têm uma vida realmente fácil). Só que holandesa que é bom, cadê? Aqui na Holanda, as taxas de desemprego são baixíssimas e o governo faz tudo o que for possível para que um cidadão não precise virar mendigo. Isso faz com que exista um senso geral de que mendigo holandês tá nessa situação porque prefere não trabalhar. Já falei que os mendigos aqui são poliglotas. A educação básica deles é muito boa. Não tô dizendo que não tem holandês pobre, mas pobre é bem diferente de mendigo, não?

Daí que, tirando Hilda Furacão, é bem raro ter mulher que tinha boas oportunidades na vida e simplesmente escolheu virar puta (perdoem o palavrão, é mais fácil de escrever do que “prostituta”) no Red Light District (puta de luxo é outra coisa e não entra nessa discussão).

A maior parte das putas de lá é imigrante. Muitas são da África, muitas são do Leste Europeu. Não sei se tem holandesas, mas se tiver é a minoria das minorias.

Não sei se elas entram aqui legalizadas, não sei se têm visto de trabalho, não faço a menor idéia de como funciona (e esse é um texto assim, super didático, cheio de propriedade).

Só sei que a legalização da prostituição tem a ver com aquilo que já falei da Holanda: a tradição de dar liberdade aliada a uma boa dose de praticidade. É mais fácil liberar e regular do que proibir uma coisa que se sabe que não vai ser erradicada.

É a coisa de liberar, ainda que parcialmente, para exercer maior controle social.


E a foto lá em cima eu catei no google, achei aqui . Tem gente que se aventura a tirar foto, eu sou medrosa e prefiro ficar assim. A polícia daqui é séria, féra.

2 comentários:

Lílian Soares disse...

Pois eh amiga. Ser puta nao eh escolha de certeza. Qt a pergunta da foto o truque chama-se P i ca ca sa sa. hheheeh. A foto eh bonita sem esse truque mas ficou tao mais mais com ele. :*

Anônimo disse...

Não é escolha? Então é o que?
É mais facil estar ali a espera que apareça um otário e depois dar uma keka do ke levantar cedo e pegar no duro, trabalhar a sério!?!!! Para essas pessoas não custa nada dar o corpo a um estranho. É bem mais rentável e não se cansam tanto. A dignidade não conta.