sábado, 26 de abril de 2008

O clima engraçadinho

Quando fiz um post reclamando do começo gelado da primavera, eu disse que o jeito era esperar pra ver se o tempo se firmava de abril em diante.

Pois é... estamos quase no fim de abril e isso ainda não aconteceu. Por mais de uma semana, fez sol, um tempo lindo e uma faixa de 17º.

Aí o tempo achou que tava bom né? Vamos acabar com a felicidade desses coitados. E tudo nublou de novo, voltou a chover aquela chuva que não molha, um saco.

Na minha terra isso é chamado de couro-de-p*** (preencha os asteriscos da forma que melhor encaixa).

É por isso que os holandeses são viciados em previsão do tempo. Tipo, checam praticamente todo dia. Eu também viciei. Entro todo dia no weather.com, vejo a temperatura naquele momento, vejo o áuabaiáua (hour-by-hour) e também a previsão para os próximos 10 dias, na esperança de dias melhores, mais ensolarados e quentinhos.


Daí que eu escrevi isso revoltadinha, ontem. E hoje está fazendo 21º (!!!). Dia lindo da peeeeeeeeeeste!!!

Ai, gente. Eu fico sem querer me animar muito sabe? Já tive experiência o suficiente pra saber que isso não quer dizer nada. Mas eu sou abestalhada e já fiquei tooooda animada...

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Transporte público

Eu estou lendo atualmente um livro bastante interessante, chamado “How to survive Holland – Dealing with the Dutch before they deal with you”, de Martijn de Rooi, indicado (e emprestado) por Daniel e Mila.

O livro é tipo um “manual de sobrevivência” para o estrangeiro na Holanda, falando dos lugares, usos, costumes e tirando muita onda. Foi escrito por um holandês, o que é bem melhor, já que é sempre preferível que seja um deles a tirar onda né? Ele apresenta vários dados que corroboram o que eu já estava achando, e tantos outros que eu nem imaginava.

Por exemplo: ele fala que os holandeses reclamam muito do sistema de transporte público daqui.

Coméquié, féra?

Sério, o povo do primeiro mundo tá ficando mimado demais. Uma voltinha de Rio Doce-CDU na hora do rush e esse povo aprende a não reclamar de barriga cheia.

O sistema daqui, pra mim, é simplesmente praticamente perfeito.

Quer pegar um ônibus pra ir na casa dos amigos? Marcou pra que horas? Nove horas? Beleza. Vai no site da empresa de ônibus e coloca o ônibus que você quer pegar. Ele vai te dizer exatamente a hora em que ele vai passar na tua parada e a hora em que ele chega na parada do teu amigo. E a coisa é precisa meeeeesmo. Comigo, geralmente se o ônibus não chega na hora marcada, é meu relógio que não tá na hora certa. E isso não é complexo de terceiro-mundista não, digo logo. Porque eu já sei que meu relógio é 4min atrasado em relação ao do ônibus e nunca falha. Por que eu não acerto meu relógio? Porque eu não quero ceder, oras.

Tanto é preciso, que muuuuitas vezes quando o ônibus anda mais rápido, acaba ficando parado na parada (cacofonia dos diabos) esperando dar a hora de sair dela. Pois é, filhos. Se o ônibus chegar mais cedo do que devia na parada, ele fica lá esperando dar a hora de sair. Vai que ele passa mais cedo e alguém perde o ônibus por ser pontual? Eu mesma não me acostumo e sempre tento chegar na parada 5min antes, porque como boa brasileira que sou, já perdi várias vezes a hora.

Isso não é só com ônibus não. Com trem e bonde é a mesmíssima coisa. Bonde não tem em toda cidade, aqui em Leiden não tem, então vou passar essa.

Para os trens, você acessa o site também. Diz de qual estação você sai e para qual estação você vai e que horas você quer sair/chegar. Ele especifica tudo direitinho: a hora em que o trem sai, qual o trem, a plataforma, o tipo de trem – se é sneltrein (trem rápido), stoptrein (pinga-pinga), intercity (dá pra entender) – e a hora em que ele chega, em que plataforma chega e tals. Além, claro, de dizer o valor da viagem.

Ah, vocês podem pensar: e se eu não sei qual o ônibus que tenho que pegar e em qual parada desço? Ah, eu respondo: você acessa o site 9292 e diz de que rua você sai e em que rua você quer chegar (pra a mesma cidade ou pra cidades diferentes). Aí ele te explica assim: você caminha 1min até a sua parada, pega o ônibus tal que passa de x horas, desce em tal parada, caminha 5min e chega em seu destino. E se for em cidade diferente, ele diz também qual o trem e blablabla. Tudo com os devidos valores de passagens.

E assim, você se programa perfeitamente. Rola atraso de vez em quando? Rola. O livro diz que a taxa de atraso dos trens é de 15%. Dá pra morrer? Falando em morte, às vezes essa é a causa do atraso. Tipo, de vez em quando alguém se joga nos trilhos e o lugar fica interditado.

Claro que quem não tem internet se resolve também. As mesmas informações dos sites também estão disponíveis em placas em todas as paradas de ônibus e nas estações. O serviço 9292 também é disponível por telefone.

Estudante entra de graça. Velhinhos também. E se você não entra nas categorias de descontos, você pode comprar um cartão de desconto. O de trens baixa em 40% as taxas e você pode comprar com desconto pra você e mais 3 pessoas. E tem cartão de desconto pra viagem internacional de trem também.

Pra mim a maior merda mesmo é não ter bacural. Geralmente, depois de meia-noite, acabou-se ônibus. Se for pra náite, volte cedo ou volte a pé. Se dirigir, não pode ficar bêbado, mesmo. E andar de bicicleta bêbado não é recomendável.

Pois bem, agora que eu descrevi isso, já dá pra entender porque os holandeses reclamam. É bom demais ser mimado, não é mesmo, pessoal?

Ruim é pra quem tem que te agüentar depois do estrago feito...

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Tamanho é documento?

Ontem fomos ao aniversário de uma amiga em Gorinchem, uma cidade pequena e super graciosa localizada mais ao centro da Holanda. Pra situar, Leiden fica no Leste, bem pouco afastada da costa.
Levamos quase 1h30 pra chegar lá de trem, tempo danado levando em consideração que a maior parte das vezes viajamos menos de 1h.
No caminho, paisagens mais diferentes, mais rurais.
Aí marido e eu ficamos discutindo o tamanho da Holanda, comparado ao do Brasil.
1h30 era o tempo que eu levava facinho no Rio Doce-CDU pra chegar na faculdade logo cedo. Ou, também facinho, o tempo que eu esperava pelo Ceasa-Casa Amarela na saída do CAC.
Aqui, minhas relações com tempo e distância têm mudado bastante (também minhas percepções em relação à área construída e ao tamanho dos ambientes que você precisa pra viver).
Eu sempre comparava a Holanda com Sergipe, daí resolvi checar:
Sergipe: 21910 km2
Holanda: 41526
km2
A Holanda é quase o dobro de Sergipe. O tamanho dela, na verdade, é um pouco maior que o da nossa Ilha de Marajó (40100 km2).
Grandona nénão?
O legal é que todas as cidades em que fomos são diferentes umas das outras. Cada uma tem sua graça e seu diferencial (apesar de nas fotos as casas parecerem todas iguais, digo logo).
Mas o mais legal meeeeesmo é que num instante dá pra conhecer esse país tãããão grande quase todinho.

*Fotos de Gorinchem no Flickr.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Menu de Brebotos - TURKSE PIZZA

Dos mesmos produtores do Shoarma, outro prato predileto: a Turkse Pizza. Como bem dá pra entender, Pizza Turca.
O breboto consiste de uma massa redonda fininha e crocante, de uns 40cm de diâmetro. Sobre a massa, carne que eu suponho ser de carneiro, bem moidinha. Daí eles pegam essa base, assam no forno e depois colocam salada e molho, que variam de acordo com o lugar onde você come. Tem lugares que fazem um "selfselve" e você escolhe o que quer. Onde comemos, na padaria do house árabe, o recheio geralmente tem alface, pepino, repolho e mais alguns matos e o molho é à base de alho e iogurte.
Depois de feito o recheio, a pizza é enrolada e coberta com papel alumínio. Fica então super prático, já que você pode pegar e sair comendo mesmo que esteja na maior pressa.
Quando cheguei aqui, via muitos holandeses na rua com esse cilindro prateado (eita, pegou mal) e me perguntava o que era.
E não é à toa que tanta gente come. Além de ser prática, é super de-lí-cia e leve, especialmente se comparada com o "primo" shoarma.
A turkse pizza não é vendida só em estabelecimentos de turcos. Os gregos também têm suas versões de shoarma e pizza, muito provavelmente causadas pelo período de domínio Turco Otomano no país.
Também os estabelecimentos holandeses vendem a pizza. Só que nos holandeses, você pode mudar o molho pra comer com maionese e até catchup. Por isso prefiro ir nos turcos mesmo, é muito mais gostoso lá.
Além do que, poxavida, comer ouvindo house árabe... onde mais?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sobre imigrantes II

Bruno (o bêbo) me perguntou no comentário do post abaixo se eu nunca fui confundida com muçulmana.
Antes de virmos morar aqui, Bruno (o meu marido) dizia que os holandeses iam achar que eu era turca. Porque as turcas em geral são também morenas do cabelo cacheado e nem todas elas usam véu, ou seja...
Eu estranhei um pouco e chegando aqui realmente não me achei parecida. O tipo é bem diferente, em especial o nariz (hehehe), além de elas andarem com os olhos bem pintados e tal.
Mas tipo, normal um holandês achar que eu sou turca. Estranho seriam os turcos acharem isso. Afinal, eles deveriam saber reconhecer o próprio tipo.
Acontece que ao chegarmos aqui, mais de uma pessoa achou que Bruno (já sabem qual né?) era europeu ou mesmo holandês e eu era a estrangeira que deu o golpe do passaporte.
Às vezes a gente passa entre turcos e eles ficam olhando meio enviesado. Como se achassem que eu traí o movimento punk turco.
Mas também ninguém nunca me perguntou se eu sou turca ou muçulmana.
De repente o olhar enviesado é o jeito deles mesmo. Aquele jeito meio hiphop-wannabe que já falei ali embaixo.
A culpa é da MTV, que saiu dizendo por aí que o estilo gangsta é legal.
Essa sim, traiu o movimento punk.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sobre imigrantes

Quando cheguei na Holanda, me surpreendi com a diversidade de culturas que encontrei aqui. Vinda de um país notoriamente multicultural, eu mesma descendente das três raças das quais resultaram esse “amálgama” que é o Brasil (ai, que piegas), foi aqui que a diversidade me surpreendeu. Acho que com a minha eu já tava deveras acostumada né? Até porque tem gente aqui que acha super-estranho eu ser “black” e meu marido ser “white”.

Coisas de quem supostamente não se misturou demais, mas não olha direito pra quem tá passando na calçada em frente à sua casa.

Explico: aqui, além de holandeses (o óbvio ululante), existe uma grande população muçulmana (predominantemente turca e marroquina. Eu costumo dizer “árabes”, mas a bem da verdade não sei se todo muçulmando é árabe), asiática (China, Vietnã, Japão e tudo aquilo que eu não consigo distinguir, além de Índia).

Existe muita gente também do Suriname, colônia holandesa que se tornou independente em 1975. Antes de sua independência ser declarada, a Holanda permitiu que seus cidadãos viessem residir aqui, caso desejassem. Muita gente veio. Tem também muita gente das Antilhas Holandesas, que ainda fazem parte do Reino dos Países Baixos.

Essa superpopulação de imigrantes é tradicional aqui da Holanda. O país se ergueu tomando como base o princípio da cidadania, da igualdade entre os cidadãos, tolerância com diferentes religiões, entre tantas outras coisas que fazem o país ser conhecido como um dos mais permissivos e liberais do mundo. É algo como: cada um cuida de sua vida. Além de drogas leves e da prostituição, aborto, eutanásia e casamento homossexual são liberados.

Tudo isso é muito bonito mas também é também muito prático, já que, desde os primórdios, a Holanda precisou de mão-de-obra externa pra se firmar como potência internacional que foi. Um país que deveria estar embaixo da água sempre precisou de muito trabalho pra vencer essa “guerra” contra a água, como eles chamam. “Cada um vive a sua vida, mas a gente precisa de trabalho coletivo pra manter o país seco”. Essa relativa liberdade relativamente interesseira (uma liberdade controlada, pois os holandeses controlam todos os aspectos da vida pública nas cidades, e isso é claramente expresso em seu urbanismo, mas isso é assunto pra outro post...) foi desde o começo um grande atrativo para imigrantes.

Resultado: o país manteve a tradição de portas abertas e “venham a mim os trabalhadores”. Agora cerca de 10% da sua população é de imigrantes. Está começando a incomodar.

Pra se ter uma idéia, hoje em dia, a população holandesa é de 16,5 milhões de pessoas. Cerca de meio milhão é de muçulmanos. Não é de se estranhar que a maior implicância seja com eles.

A secretária do departamento de história veio dia desses conversar sobre esse assunto com Bruno. Ela disse que não queria que ele achasse que ela é de direita e que a imigração de “brancos” como ele não incomoda (uma morena como eu será que incomoda?), mas que os turcos e os marroquinos causam problemas, como violência e arruaças. Que essas pessoas andam em grupos, que desrespeitam os policiais, causam desordem e muitas vezes atacam judeus. Ela disse que o marido dela foi atacado pelo jardineiro e que amigos judeus dela foram agredidos nas ruas. Disse também que 90% da população carcerária é de marroquinos (em uma revista, vimos que era na verdade de antilhanos, portanto, de cidadãos dos países baixos).

É verdade que em geral você encontra grupos de meninos árabes andando naquele jeito meio hip hop- gangsta wannabe, mas também não posso entrar numa de achar que eles são marginais por causa disso.

O fato é que setores políticos conservadores já começam a defender a idéia de que eles sejam mandados de volta a seus países, pois julgam que eles ameaçam a cultura holandesa. Dizem que o Corão é fascista e têm, eles mesmos, tentado espalhar o medo na população.

Depois do assassinato do cineasta Theo van Gogh em 2005, por um radical islâmico após ele ter lançado um documentário expondo a situação da mulher no Islã (não sei o teor do video), quem mais tem se destacado nesse campo é o deputado de extrema direita Geert Wilders. Ele produziu um video amador chamado Fitna, alegando que o corão estimula a violência e, de maneira infantil e simplista, tenta causar pânico de que a Holanda venha a se tornar um Afeganistão. Para saber mais do vídeo, vale ver o post do blog (A)berração (nepotismo, é o blog do meu marido, mas pelo menos a explicação está em português).

Muitos holandeses acham o vídeo uma vergonha e querem que ele seja banido. As organizações muçulmanas pediram que os fiéis ignorem o coitado e deixem pra lá.

E ninguém sabe onde isso vai parar.

De qualquer forma, é bom lembrar que, diferentemente da Dinamarca (com a confusão das charges de Maomé), aqui na Holanda nem a morte de van Gogh (o medíocre), nem o lançamento do Fitna levaram a protestos violentos ou outros tipos de confusão. O assassinato do cineasta foi encarado como obra de um indivíduo radical isoladamente.


Quanto à minha condição de imigrante, não sinto nenhum preconceito. Como já disse, as pessoas são gentis e solícitas e em geral se derretem todas quando falo que sou do Brasil. A própria secretária que falou em imigração “branca” tem dois posters do Brasil em sua sala. Pra não dizer que não falei dos chatos, houve 2: um cara do banco e um motorista de ônibus que reclamou porque dei muitas moedas. Mais fácil assumir que eles são mal-amados do que dizer que tiveram preconceito comigo.

Claro que ainda posso mudar de opinião ao longo de quase 4 anos. Claro que não convivo com holandeses. Claro também que se fossem 500 mil brasileiros aqui, a situação ia ser bem diferente. Por enquanto vai tudo bem. E olha que eu moro num bairro cheeeeeeio de muçulmanos.


No fim de tudo, a pergunta que não cala em meu coração é: será que Geert Wilders curte um shoarma? Será que ele come escondido? Ou fica só na patat met?

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Alguma escatalogia

Essa é pra quem não conhece ou não consegue visualizar a privada holandesa.
Sim, pessoal. Ela é diferente. O buraco dela é na frente, ó:

Acho que essa foto horrível ajuda a visualizar (não, não é a privada da minha casa...).
Daí que quando você faz o número 2, ele fica na louça, olhando pra você sabe?
Por esse motivo, essa privada é o terror dos estrangeiros.
Eu particularmente gosto, porque dessa forma não tem nenhum perigo de a água voltar pra sua bunda, sabe como é? Mas se a descarga for fraca, isso pode ser um probleeeema. Você tem que ficar encarando seu - como vamos dizer de maneira elegante... seus dejetos... até que a descarga resolva funcionar. Um tanto quanto desagradável, pode-se dizer.
Mas de qualquer forma, parece que isso está mudando. Nas casas novas, já são usadas privadas normais, como as do resto do mundo (o mundo que usa privada, não o mundo que usa buraco no chão ou coisa que o valha).
Eu sinceramente, acho bobagem. Porque mudar uma coisa tão típica e íntima de um povo?